Ficção científica inteligenteEste é um filme imperfeito, alguns aspectos são bons e outros são maus, mas é um filme feito em boa fé, cuja equipa procurou fazer o melhor possível, com os meios técnicos e financeiros ao seu dispor. A preocupação aqui foi a de fazer o melhor filme possível, e não a obtenção fácil de lucros.
À primeira vista, olhando para o poster original que mostrei acima (que até está correcto e não é enganoso), este não parece ser um filme muito inteligente... Eu esperava macacada neste filme de 1957, mas deparei-me com alguns diálogos que podiam ter saído da série "Cosmos", que o cientista Carl Sagan viria a criar mais tarde em 1980.
A premissa do filme, baseia-se na expedição norte americana de 1946-1947 "The United States Navy Antarctic Developments Program", que supostamente teria detectado um oásis geotérmico na então ainda quase inexplorada Antártida. Esta expedição existiu mesmo, mas não encontrei nenhum relato de 1947 de uma zona com micro clima, vegetação e água morna, a não ser em sites de teorias de conspiração (parece que existem muitas teorias de conspiração sobre essa expedição).
https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_HighjumpA parte inicial do filme faz muito uso de filmagens autênticas da expedição de 1946-1947, desde o "debriefing" até ao acidente onde o helicóptero cai no vale pré-histórico. Este é um filme com poucos meios e por isso as únicas filmagens exteriores são estas cenas reais intercaladas com filmagens interiores de estúdio, por vezes sobrepostas às filmagens reais, através da técnica "blue screen".
O "The Land Unknown" parece ser um puro filme de estúdio, todo filmado num "sound stage", mas pelo menos tiveram muito cuidado a escolher bem e a integrar a "raw footage" da missão de 1947, por exemplo o modelo miniatura de helicóptero é igual ao helicóptero verdadeiro que surge a voar na referida missão.
A ideia base do filme é que dez anos após a missão original, é lançada uma segunda expedição para investigar a anomalia climática, onde os quatro protagonistas descobrem um eco-sistema pré-histórico. Existem outros filmes com este conceito do vale perdido, mas este pareceu-me muito rigoroso a nível científico.
A Antártida foi mesmo em tempos habitada por dinossauros que coexistiam com pequenos mamíferos, o que o filme propõe é existência de uma região abaixo do nível do mar, com grande concentração de actividade geológica (fontes geotérmicas) que mantiveram o clima do período Cretáceo, junto com a sua flora e fauna local, até à era presente.
Um dos quatro protagonistas do filme é um cientista estilo o Carl Sagan, quando se deparam com dinossauros, outra personagem do grupo pergunta se poderão também haver homens das cavernas, ao que o cientista explica que não existiam humanos nessa Era.
Quando descobrem um pequeno mamífero, o cientista explica que esse pequeno primata é um antepassado do Homem, num processo de evolução que demorou milhões de anos.
Como eu já vi a série "Cosmos" de 1980 muitas vezes fiquei logo intrigado com o argumento deste filme, porque é mesmo assim que o Carl Sagan explica a evolução das espécies na sua famosa série. Gostei muito desse aspecto pedagógico do filme, porque ainda hoje essa informação é considerada um sacrilégio pelos fanáticos religiosos, que há poucos anos censuraram o remake do "Cosmos" numa cidade americana. Para um fanático religioso é considerado um crime de heresia e uma violação dos direitos pessoais, um canal de TV contradizer que Deus criou o Adão e Eva, e não me refiro à Idade Média, mas sim aos EUA do século XXI. Acredito que este filme possa esta na lista proibida de alguns grupos religiosos radicais norte-americanos (os mesmos que censuraram a série Cosmos).
Em Portugal já houve um problema pedagógico com um manual escolar de História do 7º ano de escolaridade, que continha uma ilustração de humanos a caçarem dinossauros com lanças. Vi um debate na RTP sobre isso, por volta de 1991.
Andei a tirar dúvidas no wikipedia acerca da Antártida, dinossauros, períodos geológicos, etc. e pareceu-me bastante correcto o que o filme mostra.
A premissa não era descabida porque existem vulcões e fontes geotérmicas nas profundezas dos abismos oceânicos, onde habita fauna marítima pré-histórica, julgada extinta. Às vezes leio notícias sobre essas descobertas. Desde que o filme foi feito, a Antártida foi mais explorada e hoje sabemos que não existe lá nenhum vale de dinossauros, mas parece-me uma boa premissa de ficção científica para 1957.
Eu acho que o filme tem uma premissa, enredo e argumento inteligentes, infelizmente os actores são péssimos. O constante mau desempenho dos actores foi o aspecto mais negativo que vi neste filme, em particular a actuação da mulher-repórter.
O que as personagens dizem e fazem tem lógica, mas o comportamento, expressão facial e tom de voz está completamente "off".
A maior parte do orçamento do filme foi gasto nos efeitos especiais ópticos, miniaturas, etc. e depois o dinheiro não chegou para a película a cores. Isto até foi bom porque os efeitos especiais da época ficam melhor a preto e branco.
No aspecto técnico a qualidade varia muito, o que o filme faz bem é o jogo de diferentes escalas, ou seja a sobreposição de imagens filmadas em diferentes escalas, para os dinossauros são usadas diferentes técnicas, desde lagartos verdadeiros (a melhor técnica), um sujeito dentro de um fato de T-Rex (a pior técnica), planta carnívora movida por fios de nylon ou arames (marioneta), etc.
O género do filme é a aventura e o tema é a ficção científica, aqui as opiniões podem divergir se um vale de dinossauros é ou não ficção científica, mas depois de eu ter visto o filme, não tenho qualquer dúvida que se trata de ficção científica pura, embora esta não seja da corrente filosófica. Este é um filme adulto que envolve as disciplinas da Biologia e Geologia, com respeito pela ciência e com um argumento lógico.
Mas o filme é imperfeito e fraco em vários aspectos, para além dos defeitos que já apontei, a história não cativa tanto como a história do "The Incredible Shrinking Man" (outra pérola rara da sci-fi dos anos 50).
Para quem esteja na dúvida se perca tempo com isto, eu diria que quem gostou do "The Incredible Shrinking Man" poderá gostar disto. Mas depende muito dos vossos gostos, eu por exemplo quando tinha 12 anos comprei este jogo do ZX Spectrum:
Foi a primeira vez que vi um filme parecido com esse jogo, e por isso gostei muito do filme. Eu já tenho uma pré-disposição para o tema do filme e por isso já tinha o filme na minha "watch list", mesmo esperando o pior. A minha opinião é portanto muito suspeita e parcial.
Eu irei dar uma nota de 7,5/10. O filme para muitos será talvez um 6/10, mas eu dou uma nota mais alta, pelo respeito pela ciência, lógica do argumento e ausência de infantilidades (seriedade).