Observação: Texto escrito por mim em Janeiro de 2014, que penso ser interessante partilhar no Xploited Forum.
The Incredible Shrinking Man
Este filme foi transmitido circa 1985 na RTP 2, a um domingo à noite por volta das 23:00/0:00, numa rúbrica (que durou talvez 6-12 meses) dedicada a cinema clássico (antigo)/fantástico. São os pormenores de que me lembro, mas já é qualquer coisa porque no imdb não consta qualquer referência a título português ou data de lançamento em Portugal. Lembro-me também que na mesma altura e na mesma rúbrica da RTP 2 foram transmitidos os seguintes filmes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Them!
https://en.wikipedia.org/wiki/Five_%281951_film%29
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Andromeda_Strain_%28film%29
Estes títulos poderão servir para aproximar a data da exibição em Portugal (1984, 1985 ou 1986?).
Trailer amador em HD, a minha escolha pessoal de entre o material disponível no You Tube
Aviso: Contém close-ups de uma tarântula viva, o que poderá causar tonturas, perda de equilíbrio e má disposição no estômago a aracnofóbicos, eu próprio fico mal disposto com a nojice da aranha! :-(
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Incredible_Shrinking_Man
http://www.imdb.com/title/tt0050539/
Obra-prima profunda do cinema fantástico, décadas à frente do seu tempo
Adoro este magnífico filme, que vi pela primeira vez na RTP 2, quando ainda estudava na escola primária. Este filme permaneceu na minha memória durante décadas, e há já alguns anos revi-o segunda vez em adulto, na altura apenas por nostalgia, mas voltou a marcar-me na positiva e fiquei de boca aberta perante a qualidade extrema e inesperada, de um trabalho norte-americano desta era e temática.
Voltei a revê-lo agora pela terceira vez, no âmbito desta crítica cinematográfica que estou a escrever. Este filme é mesmo excelente e imperdível, mas atenção que ele precisa de ser recomendado e elogiado por alguém que seja capaz de separar o trigo do joio, numa época em que o género do fantástico foi maltratado pelas duas super-potências cinematográficas mundiais (EUA e Bloco Soviético). Seja pelo meu texto de recomendação ou pelas críticas positivas, análises técnicas e discussões (inteligentes) do imdb.
É essencial que os potenciais cinéfilos interessados não desanimem perante o comportamento inicial da esposa do personagem, nos primeiros seis minutos de fita. Nesses primeiro seis minutos a actriz não se comporta como ser humano, mas sim como personagem imbecil retirada do antigo testamento cristão-judaico-islâmico, numa tentativa das elites que controlavam os estúdios de cinema, tentarem impôr propaganda política e religiosa e fazerem "mind-control" ao povo... É uma situação triste mas característica de um filme norte-americano de 1957.
Mas atenção que a partir do minuto 6, já não surgem problemas desses, e todos os personagens se comportam de forma inteligente e lógica. Não faço esta chamada de atenção para dar na cabeça ao filme ou ao "Production Code" (censura) em vigor... faço-o para prevenir que alguém desista de ver o filme, durante esses seis minutos iniciais.
A primeira metade do filme é a fase de encolhimento de Robert Scott Carey, em que ele é exposto a uma nuvem radioactiva no mar, que combinada com um químico fertilizante a que ele esteve sujeito anteriormente, provoca o tal efeito de encolhimento. Esta premissa poderá parecer idiota e correspondente àquelas porcarias sci-fi dos anos 50, para intrujar o público, mas eu garanto que o filme é de grande qualidade e originalidade, muito para além do que possam estar à espera.
Nesta fase do filme ele faz exames médicos e é notícia da imprensa, fiz um pequeno conjunto de imagens que comentarei de seguida:
Ora bem, esta premissa do homenzinho a encolher viola as leis da Física, por isso eu classificaria este filme com o género "Fantástico" da literatura, e não como ficção científica. Na literatura existe também o conceito "Magical Realism" onde se parte de uma premissa do fantástico ou sobrenatural, e se lhe dá o tratamento do realismo. Aqui temos uma consultadoria científica tremenda e de grande qualidade, a suportar a premissa "fantástica" do filme, dá gosto de ver...
Desde o raio-x com papa de bário à terminologia técnica coerente utilizada pela junta médica, a execução e enredo é impecável... quando tal não seria esperado numa filme norte-americano de ficção científica da década de 1950!
Do ponto de vista técnico e cinematográfico dos efeitos especiais e ópticos, este filme é superior às super-produções da década de 1980, como o "Indiana Jones". Poderão interrogar-se de como isso é possível, e terão toda a razão para o fazer... A minha resposta:
Os efeitos especiais ópticos usados neste filme foram obviamente fruto de grandes cálculos matemáticos e geométricos, numa obra de arte e proeza técnica feita com gosto, tempo, paciência e com o objectivo de maximizar a qualidade do filme (e não com ganância de maximizar lucros e intrujar os espectadores). Existe a expressão "trabalho de chinês" que será apropriada ao esforço notório dos efeitos especiais deste filme, que arrasam o CGI de muitas super-produções do séc. XXI.
Nem todos os efeitos especiais são brilhantes, no pior caso alguns estão apenas ao nível máximo da elite dos anos 50. Os efeitos especiais que me deixam realmente de boca aberta são os que excedem e ultrapassam esse máximo, como no screenshot acima, em que a sala tem mobília gigante, e é a esposa que está super-imposta, e onde se podem observar as sombras gigantes dela na mobília, que não está no plano dela, mas sim do marido... será necessário ver o filme para apreciar.
Ainda na recta final da primeira metade do filme, a estrela do filme é o gatarrão, que julgo tratar-se de um gato tigrado amarelo (a preto e branco é difícil de identificar). Este gato já tinha surgido diversas vezes no início do filme, com comportamento credível e realístico ao nível do cinema soviético, onde os animais (ou seus treinadores) são excelentes actores da corrente do realismo cinematográfico.
Até tinha pensado em subir um ponto percentual à minha classificação final do filme, pelo desempenho credível deste gato... :-P
Mas não o farei e já irei explicar porquê...
A cena do ataque do gato surge quando o homenzinho já está tão pequeno que vive numa casa de bonecas (imagem acima).
Embora a cena do ataque seja excelente, ela possui uma falha de realismo, que anula o ponto percentual que eu queria somar à classificação do filme... :-(
Quem já teve gatos irá identificar esta falha na imagem seguinte:
A falha da interpretação gato é que ele está a "assoprar" em posição de combate com outro gato, em disputa territorial. Ora um cato a caçar uma presa está feliz da vida e não se comporta assim...
Mas tirando essa falha cinematográfica, este é o melhor actor (gato) que já vi até hoje, mais algumas imagens:
A segunda metade do filme é uma história de sobrevivência do género aventura, com narração em voz-off dos pensamentos de Robert Scott Carey. Este segmento possui teor profundo e filosófico, bem como um desafio à mente pelos puzzles que o homenzinho terá de solucionar. Este é um filme muito inteligente...
A ratoeira:
O abismo:
Ele vive numa caixa de fósforos, mas anda uma aranha a aterrorizá-lo:
Um filme que adorei e que aconselho a todos, até aos que não apreciam o tema fantástico, porque existe muito para apreciar nesta obra, incluindo os efeitos especiais, cinematografia, história bonita e simultaneamente estranha e fascinante, argumento inteligente, consultadoria científica, etc.
O autor do argumento é o Richard Matheson, que faleceu no dia 23 de junho último (2013), ele foi o criador do "I am Legend", que inspirou o George Romero a criar o conceito de mortos-vivos (zombies):
Por último, deixo o destaque para os desafios lógicos dos puzzles que o homenzinho terá de solucionar, que parecem saídos de um jogo de PC de aventura gráfica da década de 1990, em que tínhamos de puxar pela cabeça e combinar objectos... :-)
Um filme magnífico... 91%
The Incredible Shrinking Man
Este filme foi transmitido circa 1985 na RTP 2, a um domingo à noite por volta das 23:00/0:00, numa rúbrica (que durou talvez 6-12 meses) dedicada a cinema clássico (antigo)/fantástico. São os pormenores de que me lembro, mas já é qualquer coisa porque no imdb não consta qualquer referência a título português ou data de lançamento em Portugal. Lembro-me também que na mesma altura e na mesma rúbrica da RTP 2 foram transmitidos os seguintes filmes:
https://en.wikipedia.org/wiki/Them!
https://en.wikipedia.org/wiki/Five_%281951_film%29
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Andromeda_Strain_%28film%29
Estes títulos poderão servir para aproximar a data da exibição em Portugal (1984, 1985 ou 1986?).
Trailer amador em HD, a minha escolha pessoal de entre o material disponível no You Tube
Aviso: Contém close-ups de uma tarântula viva, o que poderá causar tonturas, perda de equilíbrio e má disposição no estômago a aracnofóbicos, eu próprio fico mal disposto com a nojice da aranha! :-(
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Incredible_Shrinking_Man
http://www.imdb.com/title/tt0050539/
Obra-prima profunda do cinema fantástico, décadas à frente do seu tempo
Adoro este magnífico filme, que vi pela primeira vez na RTP 2, quando ainda estudava na escola primária. Este filme permaneceu na minha memória durante décadas, e há já alguns anos revi-o segunda vez em adulto, na altura apenas por nostalgia, mas voltou a marcar-me na positiva e fiquei de boca aberta perante a qualidade extrema e inesperada, de um trabalho norte-americano desta era e temática.
Voltei a revê-lo agora pela terceira vez, no âmbito desta crítica cinematográfica que estou a escrever. Este filme é mesmo excelente e imperdível, mas atenção que ele precisa de ser recomendado e elogiado por alguém que seja capaz de separar o trigo do joio, numa época em que o género do fantástico foi maltratado pelas duas super-potências cinematográficas mundiais (EUA e Bloco Soviético). Seja pelo meu texto de recomendação ou pelas críticas positivas, análises técnicas e discussões (inteligentes) do imdb.
É essencial que os potenciais cinéfilos interessados não desanimem perante o comportamento inicial da esposa do personagem, nos primeiros seis minutos de fita. Nesses primeiro seis minutos a actriz não se comporta como ser humano, mas sim como personagem imbecil retirada do antigo testamento cristão-judaico-islâmico, numa tentativa das elites que controlavam os estúdios de cinema, tentarem impôr propaganda política e religiosa e fazerem "mind-control" ao povo... É uma situação triste mas característica de um filme norte-americano de 1957.
Mas atenção que a partir do minuto 6, já não surgem problemas desses, e todos os personagens se comportam de forma inteligente e lógica. Não faço esta chamada de atenção para dar na cabeça ao filme ou ao "Production Code" (censura) em vigor... faço-o para prevenir que alguém desista de ver o filme, durante esses seis minutos iniciais.
A primeira metade do filme é a fase de encolhimento de Robert Scott Carey, em que ele é exposto a uma nuvem radioactiva no mar, que combinada com um químico fertilizante a que ele esteve sujeito anteriormente, provoca o tal efeito de encolhimento. Esta premissa poderá parecer idiota e correspondente àquelas porcarias sci-fi dos anos 50, para intrujar o público, mas eu garanto que o filme é de grande qualidade e originalidade, muito para além do que possam estar à espera.
Nesta fase do filme ele faz exames médicos e é notícia da imprensa, fiz um pequeno conjunto de imagens que comentarei de seguida:
Ora bem, esta premissa do homenzinho a encolher viola as leis da Física, por isso eu classificaria este filme com o género "Fantástico" da literatura, e não como ficção científica. Na literatura existe também o conceito "Magical Realism" onde se parte de uma premissa do fantástico ou sobrenatural, e se lhe dá o tratamento do realismo. Aqui temos uma consultadoria científica tremenda e de grande qualidade, a suportar a premissa "fantástica" do filme, dá gosto de ver...
Desde o raio-x com papa de bário à terminologia técnica coerente utilizada pela junta médica, a execução e enredo é impecável... quando tal não seria esperado numa filme norte-americano de ficção científica da década de 1950!
Do ponto de vista técnico e cinematográfico dos efeitos especiais e ópticos, este filme é superior às super-produções da década de 1980, como o "Indiana Jones". Poderão interrogar-se de como isso é possível, e terão toda a razão para o fazer... A minha resposta:
Os efeitos especiais ópticos usados neste filme foram obviamente fruto de grandes cálculos matemáticos e geométricos, numa obra de arte e proeza técnica feita com gosto, tempo, paciência e com o objectivo de maximizar a qualidade do filme (e não com ganância de maximizar lucros e intrujar os espectadores). Existe a expressão "trabalho de chinês" que será apropriada ao esforço notório dos efeitos especiais deste filme, que arrasam o CGI de muitas super-produções do séc. XXI.
Nem todos os efeitos especiais são brilhantes, no pior caso alguns estão apenas ao nível máximo da elite dos anos 50. Os efeitos especiais que me deixam realmente de boca aberta são os que excedem e ultrapassam esse máximo, como no screenshot acima, em que a sala tem mobília gigante, e é a esposa que está super-imposta, e onde se podem observar as sombras gigantes dela na mobília, que não está no plano dela, mas sim do marido... será necessário ver o filme para apreciar.
Ainda na recta final da primeira metade do filme, a estrela do filme é o gatarrão, que julgo tratar-se de um gato tigrado amarelo (a preto e branco é difícil de identificar). Este gato já tinha surgido diversas vezes no início do filme, com comportamento credível e realístico ao nível do cinema soviético, onde os animais (ou seus treinadores) são excelentes actores da corrente do realismo cinematográfico.
Até tinha pensado em subir um ponto percentual à minha classificação final do filme, pelo desempenho credível deste gato... :-P
Mas não o farei e já irei explicar porquê...
A cena do ataque do gato surge quando o homenzinho já está tão pequeno que vive numa casa de bonecas (imagem acima).
Embora a cena do ataque seja excelente, ela possui uma falha de realismo, que anula o ponto percentual que eu queria somar à classificação do filme... :-(
Quem já teve gatos irá identificar esta falha na imagem seguinte:
A falha da interpretação gato é que ele está a "assoprar" em posição de combate com outro gato, em disputa territorial. Ora um cato a caçar uma presa está feliz da vida e não se comporta assim...
Mas tirando essa falha cinematográfica, este é o melhor actor (gato) que já vi até hoje, mais algumas imagens:
A segunda metade do filme é uma história de sobrevivência do género aventura, com narração em voz-off dos pensamentos de Robert Scott Carey. Este segmento possui teor profundo e filosófico, bem como um desafio à mente pelos puzzles que o homenzinho terá de solucionar. Este é um filme muito inteligente...
A ratoeira:
O abismo:
Ele vive numa caixa de fósforos, mas anda uma aranha a aterrorizá-lo:
Um filme que adorei e que aconselho a todos, até aos que não apreciam o tema fantástico, porque existe muito para apreciar nesta obra, incluindo os efeitos especiais, cinematografia, história bonita e simultaneamente estranha e fascinante, argumento inteligente, consultadoria científica, etc.
O autor do argumento é o Richard Matheson, que faleceu no dia 23 de junho último (2013), ele foi o criador do "I am Legend", que inspirou o George Romero a criar o conceito de mortos-vivos (zombies):
Por último, deixo o destaque para os desafios lógicos dos puzzles que o homenzinho terá de solucionar, que parecem saídos de um jogo de PC de aventura gráfica da década de 1990, em que tínhamos de puxar pela cabeça e combinar objectos... :-)
Um filme magnífico... 91%