http://www.imdb.com/title/tt0127302/
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Sticky_Fingers_of_Time
Descrição: Filme norte-americano independente, de baixo orçamento, com um enredo de viagens no tempo bastante complicado.
Sinopse (IMDB): "A writer, Tucker Harding, is hired to cover an article on the hydrogen-bomb test, Nevada, 1952. While there, radiation mutates her code/soul, spawning in her the ability to travel through time by force of will. Not long after, she is murdered by a woman from the future, Ofelia, intent on securing her own ability to time travel. However, before her death Tucker travels to the year 1997 where she meets Drew, a failed writer who has been infected with Tuckers original mutation since birth. "
Trailer criado por mim:
Uma abordagem diferente sobre um tema clássico
Começo por dizer que gostei deste filme obscuro e que da minha parte está aprovado a diversos níveis. Nem tudo é bom e a falta de dinheiro é notória nesta produção, mas tal como a recepção crítica do filme espanhol "Los cronocrímenes" mostrou, por vezes é muito mais importante o enredo do que a qualidade audiovisual cinematográfica, para os apreciadores deste sub-género da ficção científica.
Nessa premissa, uma opinião escrita por um grande apreciador do tema das viagens no tempo, como é o meu caso, será algo completamente diferente de uma opinião de quem não possua um particular interesse pelo tema e que irá apenas olhar para a falta de meios e algum amadorismo do ponto de vista cinematográfico, mas que possuirá também total legitimidade para considerar este filme medíocre, caso seja essa a opinião. Mas não fiquem assustados, porque este também não é um filme amador de vão de escada como o Primer, que até tem a minha admiração pelo que conseguiram fazer com tão pouco.
Na verdade o filme até possui a estética e alguns dos temas do film noir ou neo-noir, mas aqui eu também tenho as minhas dúvidas se um apreciador dessa corrente, que não partilhe do interesse em viagens no tempo, gostará deste filme. No aspecto cinematográfico, a grande lamentação que eu tenho, são as sequências a preto e branco nos anos 1950, que dado o seu aspecto moderno, quebra o efeito que a realizadora pretendia, de mostrar cada época através da qualidade da película correspondente. Não esquecer que em 1997 ainda não haviam os computadores de hoje para tratamento de imagem e provavelmente a realizadora terá usado equipamento de vídeo dos anos 1990, que ao ser-lhe retirada a cor não corresponde a uma filmagem efectiva filmada com película a preto e branco.
Por outro lado as sequências da década de 1970, acertam em cheio no alvo e parecem ter sido capturadas com alguma máquina desse período. Eu não sou entendido nessas matérias técnicas e a minha especulação provavelmente estará errada, apenas posso comentar a estética do que vi. Poderão observar tudo isto no trailer que criei para a ficha técnica.
Sobre a natureza do enredo e abordagem deste filme... esta história não é da mesma natureza de laço no tempo (time loop) usada em filmes como o "Primer", "Los cronocrímenes" e "Predestination", mas à semelhança desses outros filmes é também um filme totalmente focado no tema da viagem no tempo, e também com um puzzle muito complicado de seguir, que começa cheio de peças soltas, que só aos poucos se irão encaixando. Desde cedo sabemos que a protagonista irá morrer baleada pelas costas, e no decorrer do filme ela também descobre isso, mas o autor e o motivo do disparo permanecem um mistério até à recta final da história, porque esta é também uma espécie de "detective story".
Em tom de elogio, tenho muito mais admiração por realizadores(as) como esta Hilary Brougher do que muitos desses conceituados e famosos realizadores que são venerados pelos cinéfilos e pela crítica profissional, e tentarei explicar porquê. A realizadora e argumentista Hilary Brougher fez um grande esforço ao conceber esta história, muito original e elaborada, que requereu grande planeamento e estudo. Para a conseguir filmar com sucesso, julgando pelos agradecimentos que surgem nos créditos, teve de pedir ajuda a lojas existentes da vizinhança, para as remodelar com o aspecto da década de 1950 e pedir licença aos moradores para fechar a rua e colocar lá automóveis dos anos 50. Por sorte não apareceu lá nenhum vizinho a fazer queixa de que não podia comprar as costeletas a 85 cêntimos, conforme o anúncio da montra da mercearia. Recomendo que vejam novamente o meu trailer para observarem essa sequência com atenção, agora sabendo de ante-mão que os donos da mercearia, barbearia e agência funerária deixaram a realizadora alterar as montras e que os vizinhos não objectaram à rua ser fechada.
Este é um filme feito em boa fé, com amor pelo cinema, concebido por uma realizadora à altura da tarefa. Tendo em conta o orçamento limitado, considero este filme bem sucedido, e pela minha parte esta senhora Hilary Brougher está aprovada, enquanto cineasta. Recomendo este filme aos apreciadores do tema de viagens no tempo, porque embora este não esteja à cabeça da lista dos melhores (que devem ser vistos primeiro), tem muito interesse pela originalidade, complexidade e estrutura do enredo.
Quanto à associação com o lesbianismo, tal não era intenção da realizadora que nem o promoveu como tal, o que sucedeu foi que ela terá sido abordada por associações de gays, no circuito de festivais em 1997, que consideraram o filme como sendo de interesse para os direitos da causa gay. Atenção que ainda hoje é proibido por lei, num grande número de países como a Índia, qualquer filme que contenha homossexualidade e mesmo o passado recente do cinema europeu ou norte-americano não é grande exemplo para ninguém. O filme foi então exibido em 1998 no "New York Lesbian and Gay Film Festival", e embora a capa original da cassete VHS não contivesse nenhuma alusão ao lesbianismo, foi depois escolhida uma capa para algumas edições DVD (como a que surge na ficha técnica) que promovem este filme como lesbianismo (podem ver diferentes capas no IMDB).
Se o filme serviu uma causa de um grupo que tem sido vítima de perseguição, até acho bem, mas o filme não é sobre lesbianismo e se querem mesmo saber, nenhuma das personagens é sequer lésbica. Existem duas mulheres de eras diferentes que estão apaixonadas pelos mesmo homem e elas apenas se sentem atraídas uma pela outra por uma razão rebuscada da ficção científica, que envolve o código genético e a alma, que é explicada no filme...
Em conclusão, este é um filme recomendado aos amantes do tema da viagem no tempo que procurem uma história original e diferente, mas sem nenhum efeito especial. Quanto aos não apreciadores do género, vejam-no por vossa conta e risco... até talvez possam gostar se apreciam cinema independente e gostam de conceitos bizarros e diferentes...