Observação: Texto escrito por mim em 2014. Um dos clips que criei no You Tube tornou-se muito popular desde então (o que tem o Chalton Heston a chorar). A minha "análise" está infelizmente cheia de spoilers e talvez seja melhor espreitarem primeiro o imdb e wikipédia, e caso tencionem ver o filme, leiam o meu texto apenas depois de o verem.
Soylent Green / À Beira do Fim
Título original: Soylent Green
Título de Portugal: À Beira do Fim
País(es) de origem: E.U.A.
Data de lançamento: 19 de Abril de 1973 (E.U.A.)
Realizador: Richard Fleischer
Género(s): Ficção Científica, Drama
Duração: 97 min
IMDB / Wikipedia
Sinopse:
Nova Iorque, 2022 - População: 40.000.000.
Num mundo ecologicamente devastado pelas U.S. Corporations, onde falta a água e comida para sustentar a população, o inspector da polícia Robert Thorn (Charlton Heston) investiga os motivos misteriosos do homicídio de um gestor rico, com o auxílio de um amigo velhote, que ainda sabe ler e escrever, e vivenciou em jovem a época, em que se compravam carne e hortaliças nas lojas...
Excerto I - Retro-escavadoras da polícia de Nova Iorque, a "recolherem" manifestantes
Excerto II - Camiões do lixo municipais transportam "carga" do centro de eutanásia humana para a refinaria de produção de feijão de soja
Aviso: O texto que se segue contém spoilers.
Ficção científica séria e dramática
Este é um grandioso filme da Golden Age (na minha opinião) do cinema norte-americano da década de 1970, à primeira vista poderá (erradamente) parecer um filme policial do estilo Blade Runner, mas tal não corresponde minimamente a este filme.
Robert Thorn (Charlton Heston) é um inspector da polícia, a investigar um caso de homicídio, durante quase todo o filme, mas isso é apenas um pretexto, meio ou ferramenta para apresentar uma história de ficção científica pura e dura, do tipo filosófico ao nível da série The Outer Limits (1995 TV series), caracterizada pela sua forte carga dramática e capacidade de pôr o espectador a pensar e reflectir.
A empresa Soylent é a concretização do sonho dos banksters (bankers / gangsters) modernos, que na sua psicopatia demente, provocam guerras e crises financeiras. Neste cenário, as elites atingiram os seus objectivos e o povo regrediu aos tempos faraónicos, em que trabalham para comer.
Soylent significa soja e lentilhas (em inglês: "soya and lentil"), conforme a explicação do livro, que não consta no filme. A mega-corporação norte-americana fornece comida a "metade do mundo". O planeta está poluído e imerso numa onda de calor permanente devido ao efeito de estufa, pelo que não é possível a agricultura tradicional e criação de gado. Já nem sequer existem peixes nos rios e mares...
O Soylent Yellow corresponde à soja tradicional, de proveniência vegetal (que se encontra à venda na secção cara/saudável do Pingo Doce, Continente, etc.), mas o Soylent Green, que dá o título ao filme, é suposto ser plâncton do oceano... O problema é que os oceanos estão envenenados e já não existe plâncton, conforme o relatório secreto que o inspector Robert Thorn descobriu.
Este filme passou na RTP por volta de 1984, quando o vi em criança. Nessa altura ainda não conseguia acompanhar o ritmo das legendas, mas o filme marcou-me pelo bom storytelling audiovisual, e retive perfeitamente o conceito da história durante os 30 anos que separam a minha segunda visualização no ano de 2014.
Já irei testemunhar, em primeira mão, qual o impacto do filme numa criança, mas antes gostava que vissem a cena brilhante e poética, da eutanásia. O actor Edward G. Robinson sabia que estava a morrer de cancro da bexiga, e que apenas lhe restavam semanas de vida, morreu 12 dias depois da filmagem que irão ver de seguida. O actor Charton Heston também fica em choque ao ver filmagens antigas (secretas) da época em que existiam animais e vegetação na Terra. Uma obra de arte... aqui vai:
A cena anterior contém a melhor interpretação do Charlton Heston que já vi, e é também uma de duas cenas que retive na memória durante 30 anos. Em criança captei bem o conceito do velhote ficar contente em voltar a ver a Terra, como ela era antigamente, mas julguei que ele tinha sido enganado/intrujado a pensar que ia para um lar da terceira idade, quando afinal o mataram e fizeram tostas com o cadáver dele...
Só agora é que eu percebi que ele estava deliberadamente a cometer eutanásia. O cérebro humano é uma máquina engraçada e peculiar, na maneira como armazena recordações de infância durante três décadas, nesta cena apenas retive o conceito visual de veados a pastar numa floresta, o que corresponde à imagem real... mas a minha outra memória do filme é totalmente surrealista! Eu imaginava milhares de fatias de pão tostado apetitosas a circular no tapete da linha de montagem, com a geometria de fatias grandes de pão de forma, quando afinal são rectângulos de plástico.
Apesar de eu ter sentido medo e mal-estar em miúdo, achei a comida Soylent Green apetitosa... percebi perfeitamente que eram pedaços pulverizados de pessoas mortas, mas tal não me enojou porque percebi que o povo estava a morrer à fome... O que efectivamente me assustou (em puto), foi julgar que andavam a assassinar pessoas para as transformar em comida.
O consultor técnico indicado na imagem acima impõe respeito...
Para terminar deixo um video, que acho que está muito bem feito, do polícia e velhote a jantarem comida verdadeira. O polícia nunca antes tinha comido carne, fruta ou hortaliças:
Vou dar uma nota muito alta por dois motivos, o primeiro motivo será a qualidade destas duas cenas do You Tube que mostrei, enquanto o segundo motivo é estarmos no ano de 2014, e saber que nos últimos 40 anos se fez muito pouco cinema deste género, o que torna o filme precioso e original.
A minha classificação: 97%
Soylent Green / À Beira do Fim
Título original: Soylent Green
Título de Portugal: À Beira do Fim
País(es) de origem: E.U.A.
Data de lançamento: 19 de Abril de 1973 (E.U.A.)
Realizador: Richard Fleischer
Género(s): Ficção Científica, Drama
Duração: 97 min
IMDB / Wikipedia
Sinopse:
Nova Iorque, 2022 - População: 40.000.000.
Num mundo ecologicamente devastado pelas U.S. Corporations, onde falta a água e comida para sustentar a população, o inspector da polícia Robert Thorn (Charlton Heston) investiga os motivos misteriosos do homicídio de um gestor rico, com o auxílio de um amigo velhote, que ainda sabe ler e escrever, e vivenciou em jovem a época, em que se compravam carne e hortaliças nas lojas...
Excerto I - Retro-escavadoras da polícia de Nova Iorque, a "recolherem" manifestantes
Excerto II - Camiões do lixo municipais transportam "carga" do centro de eutanásia humana para a refinaria de produção de feijão de soja
Aviso: O texto que se segue contém spoilers.
Ficção científica séria e dramática
Este é um grandioso filme da Golden Age (na minha opinião) do cinema norte-americano da década de 1970, à primeira vista poderá (erradamente) parecer um filme policial do estilo Blade Runner, mas tal não corresponde minimamente a este filme.
Robert Thorn (Charlton Heston) é um inspector da polícia, a investigar um caso de homicídio, durante quase todo o filme, mas isso é apenas um pretexto, meio ou ferramenta para apresentar uma história de ficção científica pura e dura, do tipo filosófico ao nível da série The Outer Limits (1995 TV series), caracterizada pela sua forte carga dramática e capacidade de pôr o espectador a pensar e reflectir.
A empresa Soylent é a concretização do sonho dos banksters (bankers / gangsters) modernos, que na sua psicopatia demente, provocam guerras e crises financeiras. Neste cenário, as elites atingiram os seus objectivos e o povo regrediu aos tempos faraónicos, em que trabalham para comer.
Soylent significa soja e lentilhas (em inglês: "soya and lentil"), conforme a explicação do livro, que não consta no filme. A mega-corporação norte-americana fornece comida a "metade do mundo". O planeta está poluído e imerso numa onda de calor permanente devido ao efeito de estufa, pelo que não é possível a agricultura tradicional e criação de gado. Já nem sequer existem peixes nos rios e mares...
O Soylent Yellow corresponde à soja tradicional, de proveniência vegetal (que se encontra à venda na secção cara/saudável do Pingo Doce, Continente, etc.), mas o Soylent Green, que dá o título ao filme, é suposto ser plâncton do oceano... O problema é que os oceanos estão envenenados e já não existe plâncton, conforme o relatório secreto que o inspector Robert Thorn descobriu.
Este filme passou na RTP por volta de 1984, quando o vi em criança. Nessa altura ainda não conseguia acompanhar o ritmo das legendas, mas o filme marcou-me pelo bom storytelling audiovisual, e retive perfeitamente o conceito da história durante os 30 anos que separam a minha segunda visualização no ano de 2014.
Já irei testemunhar, em primeira mão, qual o impacto do filme numa criança, mas antes gostava que vissem a cena brilhante e poética, da eutanásia. O actor Edward G. Robinson sabia que estava a morrer de cancro da bexiga, e que apenas lhe restavam semanas de vida, morreu 12 dias depois da filmagem que irão ver de seguida. O actor Charton Heston também fica em choque ao ver filmagens antigas (secretas) da época em que existiam animais e vegetação na Terra. Uma obra de arte... aqui vai:
A cena anterior contém a melhor interpretação do Charlton Heston que já vi, e é também uma de duas cenas que retive na memória durante 30 anos. Em criança captei bem o conceito do velhote ficar contente em voltar a ver a Terra, como ela era antigamente, mas julguei que ele tinha sido enganado/intrujado a pensar que ia para um lar da terceira idade, quando afinal o mataram e fizeram tostas com o cadáver dele...
Só agora é que eu percebi que ele estava deliberadamente a cometer eutanásia. O cérebro humano é uma máquina engraçada e peculiar, na maneira como armazena recordações de infância durante três décadas, nesta cena apenas retive o conceito visual de veados a pastar numa floresta, o que corresponde à imagem real... mas a minha outra memória do filme é totalmente surrealista! Eu imaginava milhares de fatias de pão tostado apetitosas a circular no tapete da linha de montagem, com a geometria de fatias grandes de pão de forma, quando afinal são rectângulos de plástico.
Apesar de eu ter sentido medo e mal-estar em miúdo, achei a comida Soylent Green apetitosa... percebi perfeitamente que eram pedaços pulverizados de pessoas mortas, mas tal não me enojou porque percebi que o povo estava a morrer à fome... O que efectivamente me assustou (em puto), foi julgar que andavam a assassinar pessoas para as transformar em comida.
O consultor técnico indicado na imagem acima impõe respeito...
Para terminar deixo um video, que acho que está muito bem feito, do polícia e velhote a jantarem comida verdadeira. O polícia nunca antes tinha comido carne, fruta ou hortaliças:
Vou dar uma nota muito alta por dois motivos, o primeiro motivo será a qualidade destas duas cenas do You Tube que mostrei, enquanto o segundo motivo é estarmos no ano de 2014, e saber que nos últimos 40 anos se fez muito pouco cinema deste género, o que torna o filme precioso e original.
A minha classificação: 97%