Things to Come
Data de estreia (do filme): 20 de Fevereiro de 1936
Data de publicação, por H.G. Wells, do argumento (do filme): 1935
Data de lançamento do livro The Shape of Things to Come, em que o filme se baseia: Setembro de 1933
Capa do livro de 1933
Wikipédia / IMDB
Trailer original de 1936:
Sinopse
A vida futura (título em Portugal), é uma super-produção inglesa épica de ficção científica, que abarca um período (no futuro de então) de cerca de 100 anos entre 1940 e 2036.
Nesta visão alternativa do futuro, a Alemanha Nazi desenvolve e utiliza armas químicas e bacteriológicas, contra a Inglaterra e seus aliados, numa (ainda teórica) 2ª Guerra Mundial, que se arrasta por décadas e lança uma segunda idade das trevas sobre o mundo.
Na década de 1970, surge uma tecnocracia dictatorial, liderada por cientistas e engenheiros, que impõe lógica e ciência pela força das armas (e que no livro criminaliza todas as religiões, elemento omisso no filme).
Uma obra muito complexa
Eu tenho de respirar fundo antes de abordar este filme, que não é nada fácil de discutir. Mas tentarei fazer o melhor que possa, e "atacar o bicho" de todos os diferentes ângulos e pontos de vista que consiga.
Mantenham sempre presente que o filme estreou em Fevereiro de 1936, quando o filme abordar helicópteros, ecrãns LCD transparentes, carpet bombing, guerra de tanques, e outras ideias então futurísticas...
Inglaterra (1970) - Ferreiro prepara ferradura para colocar no cavalo que puxa um automóvel Rolls-Royce
1940 (Futuro alternativo)
Bem, mãos à obra... este filme arranca no futuro, na véspera de natal do ano 1940, na cidade inglesa Everytown que simboliza Londres, e onde a ameaça de ataque iminente pela Alemanha está bem patente. Este filme possui a liberdade de um livro, e não está sujeito às regras e fórmulas comerciais do cinema (romances, telenovelas, filmes clichés e afins).
Preparei um vídeo com um dos vários segmentos de montagens audio-visuais que o filme utiliza para resumir acontecimentos históricos, ou neste caso, para nos situar num determinado momento da História, neste caso é a véspera de Natal de 1940 em "Londres", horas antes de eclodir a "2ª Guerra Mundial", neste futuro alternativo:
Este filme ambiciona mostrar 100 de história no futuro, e por isso não pode, nem deve, ter uma estrutura de romance (filme ou livro), de modo que o filme intercala estes segmentos que fazem a transição ou o ponto da situação, com narrativa convencional de cenas-chave. A primeira cena-chave envolve adultos a discutir política e as crianças a abrirem as prendas de natal.
Eu gostei particularmente do velhinho, que pega numa peça de artilharia de brincar, e que diz que no tempo dele (séc. XIX) os brinquedos eram mais simples, do estilo presépios e bonecos de madeira, mas nota-se que na verdade ele está preocupado em incentivar as crianças com tanques de guerra e aviões-bombardeiros. Tirei uma imagem dessa cena:
Pessoalmente nada tenho contra os brinquedos e jogos de computador de violência, porque brinquei com eles em criança e não sou nenhum psicopata agressivo. No entanto existem pais, que por azar têm um filho anormal/psicopata no reformatório e culpam os brinquedos ou jogos de computador, pois precisam de um bode expiatório. É um tema quente dos tempos modernos, e o curioso é ver isto abordado num filme de 1936!
Ainda no seguimento das prendas de natal, na imagem acima podem ver um menino que recebeu um tambor e um capacete, o pai dele está a segurar o capacete. Essa personagem do pai dele representa o fanático patriota/nacionalista, que acha que "a guerra (ou tropa) faz de nós homens", que tanto pode ser de extrema-direita ou de extrema-esquerda ou fundamentalista religioso, mas no fundo é o homem das cavernas que acha que a tribo dele é melhor que a dos outros, e por isso tem de matar os outros à paulada, apenas porque sim.
O simbolismo desse menino com o tambor é propositado neste filme com forte mensagem anti-guerra, conforme o segmento seguinte, em que o pai parte orgulhosamente para a guerra, e o filho toca o tambor de um lado para o outro, como introdução ao carpet bombing de Londres (ou Everytown):
Existe uma sequência de dogfight aéreo entre um caça inglês e um bombardeiro alemão, que me parece tecnicamente muito bem conseguida, e superior a muitos filmes feitos nos anos 40 e 50. O que achei engraçado foi o cavalheirismo entre os pilotos inimigos, quando estes se encontram no solo, baseado em conceitos da 1ª Grande Guerra em que os pilotos alemães e ingleses eram cavalheiros aristocratas.
Tal não sucedeu na 2ª Grande Guerra que viria realmente a eclodir no futuro, mas é engraçado ver o H.G. Wells a imaginar pormenores e situaçoes futurísticas, com base na informação que exitia no tempo dele. Fica uma imagem bonita do referido dogfight.
1966
Em 1966, o mundo estava em ruínas com 26 anos de guerra, mas ainda subsistiam os últimos vestígios de uma sociedade civilizada, os hospitais funcionavam, existia um governo central, bem como lei e ordem.
Algumas imagens das ruínas de Londres/Everytown em 1966, com descrição na legenda:
Largo central.
Hospital.
Talho a funcionar num autocarro de dois andares.
Leitaria.
Estes útimos vestígios da civilização moderna colapsam quando a Alemanha, em desespero, utiliza uma "arma do juízo final" (doomsday weapon) sob a forma de um vírus biológico mortífero, em que os infectados se tornavam sonâmbulos e contagiavam os restantes.
Um sujeito incita os outros a matar todos os doentes, como solução para a peste wandering sickness e torna-se ditador/reizinho de um condado no sul de Inglaterra.
1970
Enquanto a maior parte do mundo industrializado, vivia o conflito da guerra, uma rede underground de cientistas, engenheiros e sábios refugiou-se no Norte de África e Médio Oriente onde, durante décadas, desenvolveu tecnologia militar com o objectivo de impôr militarmente, por sucessivos golpes de estado, um governo mundial com um modelo político designado de Tecnocracia.
Tecnocrata revolucionário aterra no condado feudal de Londres.
Para a segunda metade do filme não irei escrever muito, e assim também evito spoilers.
2036
O período entre 1970-2036 foi a reconstrução da civilização e entrada na golden age da era científica.
Neste segmento de 2036 quero apenas comentar algumas curiosidades de ciência e engenharia, que me chamaram a atenção.
A imagem acima é para mim, um dos screenshots mais interessantes na história do cinema, e irei explicar porquê, as razões são três:
1) Monitor LCD transparente em 1936, 74 anos antes de ter sido inventado em 2010:
2) O velhote escolhe o video que quer ver em streaming, a partir de uma base de dados planetária, mexendo numas roldanas. Tal como eu fiz em 2014, usando um teclado e rato, para procurar o video do monitor transparente no You Tube.
3) O H.G. Wells cometeu um erro gravíssimo, do âmbito pessoal, social e humano, ao supôr que a sociedade não se importava de viver numa cidade subterrânea, sem janelas e sem luz do sol. Eu percebo que a luz do sol lhe fizesse confusão e preferisse uma cave com luz eléctrica, porque eu por acaso tenho a mesma maneira de ser, mas ao contrário do H.G. Wells eu tenho um mínimo de noção da sociedade que me rodeia e sei perfeitamente que a maioria do pessoal gosta da luz do sol. Por isso este segmento em que o velhote explica à menina que a primitiva "era das janelas" está obsoleta, é sinal de que o autor não compreendia a espécie humana. Até acaba por ser um erro engraçado...
Computador Laptop.
Um pormenor que me passou ao lado das primeiras vezes que vi este filme foi o helicóptero, um objecto tão banal na minha geração, que me esqueci que o filme foi feito antes da 2 Guerra Mundial, aqui está o design do helicóptero concebido para o filme:
Fui investigar no wikipédia e fiquei perplexo com o que descobri. Pelo que percebi, o primeiro helicóptero levantou voo no dia 26 de Junho de 1936, depois do filme ter estreado (Fevereiro de 1936), era o Focke-Wulf Fw 61, desenvolvido pela Alemanha Nazi, e tinha o seguinte aspecto:
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Focke-Wulf_Fw_61
Antes do helicóptero, exitiam auto-giros que não eram mais do que avionetas com hélice dianteira normal, mas com uma hélice não-motorizada vertical por cima, para aumentar o Lift e suster a altitude a baixas velocidades, mas esse veículo não podia ficar imóvel como o helicóptero.
O que é estranho é o design do helicóptero utilizado no filme, que é mais semelhante aos helicópteros modernos, do que os protótipos das décadas de 30 e 40... O designer teve sorte e pontaria...
A sequência do helicóptero pode ser vista no meu último excerto, que deve ser visto com olhos de ver, e com a devida apreciação de observar efeitos especiais de um veículo do futuro, o helicóptero, que ainda não tinha sido inventado.
Um último pormenor científico de relevo é a questão do corpo humano não sobreviver à aceleração extrema duma cápsula disparada violentamente, à superfície da Terra, conforme o canhão espacial mostrado no vídeo anterior, e de facto da maneira como o filme o mostra não sobrevive. Mas o Professor Michiu Kaku demonstrou num documentário relativamente recente, que se o corpo estiver mergulhado num líquido de igual densidade (água), a impusão do líquido anula a força de inércia. Ele mostrou isso com um ovo dentro de água numa centrifugadora.
O que é curioso é que em Janeiro de 1936 foi lançado um filme soviético, que utiliza esse conceito. Eu já havia mostrado e referido isso numa crítica antiga que eu fiz, e que tentarei também partilhar aqui no xploited fórum, e foi isto que escrevi na altura:
Para terminar quero fazer um aviso sério. Este não é um filme convencional de "entretenimento", e talvez deva ser antes visto e abordado como se fosse um documentário ou uma curiosidade da história do cinema. Pessoalmente eu teria gostado que este estilo de filmes tivesse continuado e evoluído, para mim este filme é um primeiro passo na direcção certa de fazer boa ficção científica no cinema, boa no sentido de nos fazer parar para questionar, ao invés de filmes de acção no espaço.
Num dos comentários que li algures sobre o filme, houve um sujeito que disse que as partes são melhores que o todo, pois o filme não parece funcionar bem como um todo, e eu acho que isso é bem capaz de ser verdade, mas não pelas razões apontadas nesse comentário. Seja como for, seja apenas pelas partes ou pelos segmentos com montagens de transição, julgo que vale a pena conhecer este filme, que só muito recentemente foi restaurado em alta-definição.
Espero que tenham gostado de ler, eu usei muitas imagens, mas teve de ser...
Data de estreia (do filme): 20 de Fevereiro de 1936
Data de publicação, por H.G. Wells, do argumento (do filme): 1935
Data de lançamento do livro The Shape of Things to Come, em que o filme se baseia: Setembro de 1933
Capa do livro de 1933
Wikipédia / IMDB
Trailer original de 1936:
Sinopse
A vida futura (título em Portugal), é uma super-produção inglesa épica de ficção científica, que abarca um período (no futuro de então) de cerca de 100 anos entre 1940 e 2036.
Nesta visão alternativa do futuro, a Alemanha Nazi desenvolve e utiliza armas químicas e bacteriológicas, contra a Inglaterra e seus aliados, numa (ainda teórica) 2ª Guerra Mundial, que se arrasta por décadas e lança uma segunda idade das trevas sobre o mundo.
Na década de 1970, surge uma tecnocracia dictatorial, liderada por cientistas e engenheiros, que impõe lógica e ciência pela força das armas (e que no livro criminaliza todas as religiões, elemento omisso no filme).
Uma obra muito complexa
Eu tenho de respirar fundo antes de abordar este filme, que não é nada fácil de discutir. Mas tentarei fazer o melhor que possa, e "atacar o bicho" de todos os diferentes ângulos e pontos de vista que consiga.
Mantenham sempre presente que o filme estreou em Fevereiro de 1936, quando o filme abordar helicópteros, ecrãns LCD transparentes, carpet bombing, guerra de tanques, e outras ideias então futurísticas...
Inglaterra (1970) - Ferreiro prepara ferradura para colocar no cavalo que puxa um automóvel Rolls-Royce
1940 (Futuro alternativo)
Bem, mãos à obra... este filme arranca no futuro, na véspera de natal do ano 1940, na cidade inglesa Everytown que simboliza Londres, e onde a ameaça de ataque iminente pela Alemanha está bem patente. Este filme possui a liberdade de um livro, e não está sujeito às regras e fórmulas comerciais do cinema (romances, telenovelas, filmes clichés e afins).
Preparei um vídeo com um dos vários segmentos de montagens audio-visuais que o filme utiliza para resumir acontecimentos históricos, ou neste caso, para nos situar num determinado momento da História, neste caso é a véspera de Natal de 1940 em "Londres", horas antes de eclodir a "2ª Guerra Mundial", neste futuro alternativo:
Este filme ambiciona mostrar 100 de história no futuro, e por isso não pode, nem deve, ter uma estrutura de romance (filme ou livro), de modo que o filme intercala estes segmentos que fazem a transição ou o ponto da situação, com narrativa convencional de cenas-chave. A primeira cena-chave envolve adultos a discutir política e as crianças a abrirem as prendas de natal.
Eu gostei particularmente do velhinho, que pega numa peça de artilharia de brincar, e que diz que no tempo dele (séc. XIX) os brinquedos eram mais simples, do estilo presépios e bonecos de madeira, mas nota-se que na verdade ele está preocupado em incentivar as crianças com tanques de guerra e aviões-bombardeiros. Tirei uma imagem dessa cena:
Pessoalmente nada tenho contra os brinquedos e jogos de computador de violência, porque brinquei com eles em criança e não sou nenhum psicopata agressivo. No entanto existem pais, que por azar têm um filho anormal/psicopata no reformatório e culpam os brinquedos ou jogos de computador, pois precisam de um bode expiatório. É um tema quente dos tempos modernos, e o curioso é ver isto abordado num filme de 1936!
Ainda no seguimento das prendas de natal, na imagem acima podem ver um menino que recebeu um tambor e um capacete, o pai dele está a segurar o capacete. Essa personagem do pai dele representa o fanático patriota/nacionalista, que acha que "a guerra (ou tropa) faz de nós homens", que tanto pode ser de extrema-direita ou de extrema-esquerda ou fundamentalista religioso, mas no fundo é o homem das cavernas que acha que a tribo dele é melhor que a dos outros, e por isso tem de matar os outros à paulada, apenas porque sim.
O simbolismo desse menino com o tambor é propositado neste filme com forte mensagem anti-guerra, conforme o segmento seguinte, em que o pai parte orgulhosamente para a guerra, e o filho toca o tambor de um lado para o outro, como introdução ao carpet bombing de Londres (ou Everytown):
Existe uma sequência de dogfight aéreo entre um caça inglês e um bombardeiro alemão, que me parece tecnicamente muito bem conseguida, e superior a muitos filmes feitos nos anos 40 e 50. O que achei engraçado foi o cavalheirismo entre os pilotos inimigos, quando estes se encontram no solo, baseado em conceitos da 1ª Grande Guerra em que os pilotos alemães e ingleses eram cavalheiros aristocratas.
Tal não sucedeu na 2ª Grande Guerra que viria realmente a eclodir no futuro, mas é engraçado ver o H.G. Wells a imaginar pormenores e situaçoes futurísticas, com base na informação que exitia no tempo dele. Fica uma imagem bonita do referido dogfight.
1966
Em 1966, o mundo estava em ruínas com 26 anos de guerra, mas ainda subsistiam os últimos vestígios de uma sociedade civilizada, os hospitais funcionavam, existia um governo central, bem como lei e ordem.
Algumas imagens das ruínas de Londres/Everytown em 1966, com descrição na legenda:
Largo central.
Hospital.
Talho a funcionar num autocarro de dois andares.
Leitaria.
Estes útimos vestígios da civilização moderna colapsam quando a Alemanha, em desespero, utiliza uma "arma do juízo final" (doomsday weapon) sob a forma de um vírus biológico mortífero, em que os infectados se tornavam sonâmbulos e contagiavam os restantes.
Um sujeito incita os outros a matar todos os doentes, como solução para a peste wandering sickness e torna-se ditador/reizinho de um condado no sul de Inglaterra.
1970
Enquanto a maior parte do mundo industrializado, vivia o conflito da guerra, uma rede underground de cientistas, engenheiros e sábios refugiou-se no Norte de África e Médio Oriente onde, durante décadas, desenvolveu tecnologia militar com o objectivo de impôr militarmente, por sucessivos golpes de estado, um governo mundial com um modelo político designado de Tecnocracia.
O termo tecnocracia deriva das palavras gregas tekhne, que pode significar técnica, destreza, habilidade ou aptidão. Ao passo que kratos, designa governo. William Henry Smith, um engenheiro californiano, é apontado como o inventor do termo tecnocracia em 1919, que o definia como "the rule of the people made effective through the agency of their servants, the scientists and engineers", embora a palavra já tivesse sido usada várias vezes antes.
O pensamento tecnocrata se origina nas raízes da Escola de Pitágoras cujo projeto era implantar “o Governo dos Sábios”. Pitágoras - mais de 2500 anos atrás - pode ser considerado “o primeiro pensador tecnocrata” que lutou pela causa do saber contra a tirania sendo perseguido e assassinado. Entretanto, seus discípulos disseminaram suas ideias que permanecem atuais até os dias de hoje. Para os pitagóricos a atividade científica seria a forma mais elevada de purificação da alma.1
Na modernidade, o Conde de Saint-Simon foi quem concebeu a Tecnocracia em 1814: “a economia não é uma ciência; é meramente uma política disfarçada.”1
No início do século XX a Aliança Técnica, composta por diversos cientistas dos quais o mais conhecido foi Albert Einstein, forma as bases para a Tecnocracia atualizada. Albert Einstein disse uma vez: "Estamos no alvorecer de um novo mundo. Os cientistas têm dado aos homens poderes consideráveis. Os políticos se aproveitaram deles. O mundo deve escolher entre a desolação indizível de mecanização para o lucro ou conquista, ou a juventude vigorosa da ciência e da técnica para atender às necessidades sociais de uma nova civilização."
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnocracia
Tecnocrata revolucionário aterra no condado feudal de Londres.
Para a segunda metade do filme não irei escrever muito, e assim também evito spoilers.
2036
O período entre 1970-2036 foi a reconstrução da civilização e entrada na golden age da era científica.
Neste segmento de 2036 quero apenas comentar algumas curiosidades de ciência e engenharia, que me chamaram a atenção.
A imagem acima é para mim, um dos screenshots mais interessantes na história do cinema, e irei explicar porquê, as razões são três:
1) Monitor LCD transparente em 1936, 74 anos antes de ter sido inventado em 2010:
2) O velhote escolhe o video que quer ver em streaming, a partir de uma base de dados planetária, mexendo numas roldanas. Tal como eu fiz em 2014, usando um teclado e rato, para procurar o video do monitor transparente no You Tube.
3) O H.G. Wells cometeu um erro gravíssimo, do âmbito pessoal, social e humano, ao supôr que a sociedade não se importava de viver numa cidade subterrânea, sem janelas e sem luz do sol. Eu percebo que a luz do sol lhe fizesse confusão e preferisse uma cave com luz eléctrica, porque eu por acaso tenho a mesma maneira de ser, mas ao contrário do H.G. Wells eu tenho um mínimo de noção da sociedade que me rodeia e sei perfeitamente que a maioria do pessoal gosta da luz do sol. Por isso este segmento em que o velhote explica à menina que a primitiva "era das janelas" está obsoleta, é sinal de que o autor não compreendia a espécie humana. Até acaba por ser um erro engraçado...
Computador Laptop.
Um pormenor que me passou ao lado das primeiras vezes que vi este filme foi o helicóptero, um objecto tão banal na minha geração, que me esqueci que o filme foi feito antes da 2 Guerra Mundial, aqui está o design do helicóptero concebido para o filme:
Fui investigar no wikipédia e fiquei perplexo com o que descobri. Pelo que percebi, o primeiro helicóptero levantou voo no dia 26 de Junho de 1936, depois do filme ter estreado (Fevereiro de 1936), era o Focke-Wulf Fw 61, desenvolvido pela Alemanha Nazi, e tinha o seguinte aspecto:
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Focke-Wulf_Fw_61
Antes do helicóptero, exitiam auto-giros que não eram mais do que avionetas com hélice dianteira normal, mas com uma hélice não-motorizada vertical por cima, para aumentar o Lift e suster a altitude a baixas velocidades, mas esse veículo não podia ficar imóvel como o helicóptero.
O que é estranho é o design do helicóptero utilizado no filme, que é mais semelhante aos helicópteros modernos, do que os protótipos das décadas de 30 e 40... O designer teve sorte e pontaria...
A sequência do helicóptero pode ser vista no meu último excerto, que deve ser visto com olhos de ver, e com a devida apreciação de observar efeitos especiais de um veículo do futuro, o helicóptero, que ainda não tinha sido inventado.
Um último pormenor científico de relevo é a questão do corpo humano não sobreviver à aceleração extrema duma cápsula disparada violentamente, à superfície da Terra, conforme o canhão espacial mostrado no vídeo anterior, e de facto da maneira como o filme o mostra não sobrevive. Mas o Professor Michiu Kaku demonstrou num documentário relativamente recente, que se o corpo estiver mergulhado num líquido de igual densidade (água), a impusão do líquido anula a força de inércia. Ele mostrou isso com um ovo dentro de água numa centrifugadora.
O que é curioso é que em Janeiro de 1936 foi lançado um filme soviético, que utiliza esse conceito. Eu já havia mostrado e referido isso numa crítica antiga que eu fiz, e que tentarei também partilhar aqui no xploited fórum, e foi isto que escrevi na altura:
Para terminar quero fazer um aviso sério. Este não é um filme convencional de "entretenimento", e talvez deva ser antes visto e abordado como se fosse um documentário ou uma curiosidade da história do cinema. Pessoalmente eu teria gostado que este estilo de filmes tivesse continuado e evoluído, para mim este filme é um primeiro passo na direcção certa de fazer boa ficção científica no cinema, boa no sentido de nos fazer parar para questionar, ao invés de filmes de acção no espaço.
Num dos comentários que li algures sobre o filme, houve um sujeito que disse que as partes são melhores que o todo, pois o filme não parece funcionar bem como um todo, e eu acho que isso é bem capaz de ser verdade, mas não pelas razões apontadas nesse comentário. Seja como for, seja apenas pelas partes ou pelos segmentos com montagens de transição, julgo que vale a pena conhecer este filme, que só muito recentemente foi restaurado em alta-definição.
Espero que tenham gostado de ler, eu usei muitas imagens, mas teve de ser...