Ficção científica "dura"A corrente filosófica da ficção científica ("hard sci-fi"), na qual este filme é um dos mais fortes, é o meu sub-tipo preferido do tema da ficção científica. No entanto só agora descobri acidentalmente a existência desta pérola, quando estava a ler a lista de filmes do
Festival Internacional de Cinema Fantàstic de Catalunya (
The Sitges Film Festival).
https://en.wikipedia.org/wiki/Sitges_Film_FestivalVim a saber que a obscuridade desta obra resulta do filme ter estado 30 anos fora de circulação, mais informação aqui:
http://www.deadchannels.com/z_p_g.phpO filme arranca com um discurso (excelente) de um líder de uma nação a anunciar que por decisão unânime do
Conselho Mundial, entra em vigor a proibição de novas gravidezes, por um período de 30 anos. Neste futuro longínquo a Terra é composta por uma federação de nações, sujeitas a um governo mundial, que estão em paz desde o final precoce da guerra fria ocorrido em 1978, com o desmantelamento global do arsenal nuclear.
Os escritores Max Simon Ehrlich e Frank De Felitta terão imaginado em 1971, que daí a 7 anos a guerra fria iria acabar, devido aos primeiros sinais de uma crise mundial com escassez de comida e sobre-população. Esta dupla de escritores (também produtores deste filme), escreveram o seu livro
The Edict muito influenciados pelo biólogo alarmista Paul R. Ehrlich, que em 1968 escreveu um livro científico (obviamente errado) a prever uma iminente crise mundial de sobre-população.
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Population_BombUm aspecto curioso e de grande interesse pessoal para mim é o dos escritores, que escreveram quer o livro, quer o argumento do filme, serem produtores executivos e assistentes deste filme. O estúdio Paramount apenas esteve envolvido como distribuidor, pois este não é um filme feito em Hollywood. O filme foi financiado pelo produtor Thomas F. Madigan, e o pequeno estúdio norte-americano responsável pelo filme chama-se Sagittarius Productions, Inc. Este estúdio Sagittarius contratou técnicos ingleses e filmou o filme na Dinamarca, a meio da produção tiveram de
despedir o realizador Michael Campus, o realizador-assistente e o director de fotografia, por estes faltarem ao respeito ao livro.
Eu aplaudo esta decisão! Mais informação no American Film Institut:
http://www.afi.com/members//catalog/DetailView.aspx?s=&Movie=54712Nesta sociedade (estado policial) do futuro, os líderes religiosos e políticos do século XX são considerados criminosos da História, culpados de crimes contra a humanidade, no verdadeiro e mais forte sentido do termo. Os papas do século XX são destacados na galeria oficial dos piores criminosos da História.
A razão da Igreja ser vilificada por esta sociedade do futuro, tem a ver com a sua posição histórica contra o aborto e anti contraceptivos. Reparem que neste cenário catastrófico do filme a eco-esfera da Terra foi destruída e toda a vida animal (excepto os seres humanos) estão extintos. É natural que uma sociedade deprimida que viva num mundo destruído, olhe com desdém para os antepassados que contribuíram para o cataclisma.
Eu não concordo que o Papa tenha essa influência sobre a sociedade, e basta olhar para Portugal, país católico. Nós não temos nenhum problema de sobre-população e não vejo os portugueses que conheço (os que são católicos crentes) a deixarem de usar contraceptivos só porque os Papas eram contra (não sei se os papas já mudaram a posição sobre o tema). Portanto não estou de acordo com esta crítica à Igreja, feita pelo filme.
Para evitar algum mal entendido, resultante de uma leitura por alto do que escrevi, eu não estou a criticar o Santo Padre e se lerem com atenção, até estou a defender a Igreja, perante a sociedade desse futuro imaginário catastrófico. O filme não causou qualquer polémica, porque essa referência surge de fugida no filme, e é preciso estar muito atento para a captar, conforme podem ver no meu trailer da ficha técnica.
(Nota do autor: Eu sou ateu, mas aqui estou a defender a Igreja porque não concordo com esse pormenor do filme. No dia em que eu comentar um filme acerca do Galileu, logo veêm "com quantos paus se faz uma canoa".)
Mas o caso muda de figura na crítica a determinados empresários da indústria e a certos políticos corruptos que estão a mando deles. Aí parece-me bem que no futuro exista uma galeria de criminosos com alguma dessa gente.
Um factor-chave que terá acelerado a explosão populacional da Terra, foi o rápido progresso da medicina que curou o cancro e todas as doenças, sem que a sociedade tenha mudado as leis e mentalidades, de forma a poder ajustar-se. Neste aspecto o filme é muito inteligente e relevante, porque esta questão vai mesmo colocar-se no mundo real. Eu vou ainda mais longe e chamo a atenção para os cientistas que estão neste momento a estudar o mecanismo que regula o envelhecimento nos mamíferos, eu pergunto como a sociedade irá reagir, quando a medicina conseguir travar o envelhecimento?
Se a imortalidade via ciência realmente chegar em 20 anos, como alguns especialistas afirmam, ela provavelmente estará disponível apenas para alguns sortudos. Isso vai ser bom para os fundadores da Calico, é claro. E – numa outra hipótese – caso um avanço inesperado torne a receita mágica da imortalidade disponível para todos na Terra, isso também não vai transformar nosso planeta no paraíso. Muito pelo contrário.
As potenciais consequências de um mundo sem mortes podem ser muito negativas nos dois cenários mencionados acima. Se a imortalidade e a tecnologia em saúde regenerativa estiverem disponíveis apenas para alguns, haverá uma separação dos seres humanos entre ricos semideuses imortais e o resto de nós, pobres mortais.
Se, por outro lado, o elixir da vida estiver disponível para todos, deverá ser criada uma legislação específica no sentido de proibir a reprodução para evitar a superpopulação e a consequente destruição do planeta.
Se isso acontecer, imagine as implicações de negar a nós mesmos a possibilidade de termos novas pessoas na Terra. A ideia de não termos mais outro Einstein entre nós é aterrorizante – mesmo se as pessoas inteligentes já vivas fossem capazes de desenvolver seu intelecto e construir o seu conhecimento ao longo dos séculos, em vez de apenas algumas décadas. Fonte:
http://hypescience.com/imortalidade-google-projeto/
Artigo sobre investigador português premiado:
http://lifestyle.sapo.pt/saude/saude-e-medicina/artigos/abrandar-o-envelhecimento?artigo-completo=sim- Fim da Parte I -