Pretendo falar neste único post, de filmes ou séries, que não se enquadrando directamente na temática do fórum, acho que o pessoal daqui irá gostar.
Não irei falar de filmes à toa, que nada têm a ver com o Xploited Fórum, mas posso por exemplo falar de um filme dramático premiado com mais exploitation do que as porcarias oficiais de exploitation, ou de um filme de fantasia e conto de fadas mais negro e adulto do que um filme de terror da treta, de filmes estrangeiros acerca de Portugal (que são sempre interessantes em qualquer fórum português de cinema), ou apenas de filmes ou séries insólitas por qualquer motivo.
A minha próxima mensagem e primeiro exemplo será um filme soviético filmado em Portugal, pelo famoso estúdio moscovita Mosfilm e um realizador soviético galardoado e premiado. Infelizmente o filme foi feito em co-produção com a Itália, que são uns malandros que faziam filmes merdosos para intrujar o povo:
Vou demorar um bocado a preparar a informação toda que tenho deste filme. para o meu próximo post, mas fica um dos meus vídeos:
Data de estreia: 21 de Dezembro de 1979 (Itália) Género: Drama Político; Ficção Histórica.
Sinopse: Um piloto da Força Aérea Portuguesa, durante a guerra colonial, recusa-se a bombardear um barco, com mulheres e crianças angolanas, e torna-se taxista nas ruas de Lisboa. Mais tarde ele é preso e torturado pela PIDE/DGS. Co-produção internacional italo-soviética, dos estúdios Mosfilm e Quattro Favalli Cinematografica, filmada em Portugal, que inclui cinematografia do tipo soviética, com câmaras montada em automóveis, nas estradas e cidades portuguesas.
Alguma informação sobre o filme...
O realizador deste filme é este peso-pesado do cinema soviético, até os norte-americanos premiaram um filme dele:
Grigori Naumovich Chukhrai. (1921-2001)
Ele só realizou 2 documentários e 7 filmes (não-documentários). Este, passado em Portugal, foi o último dele. Eu já tinha feito uma crítica ao 1º filme dele noutro fórum, que é uma bofetada na cara ao cinema norte-americano:
Já andava há algum tempo a escrever uma crítica ao 2º filme dele, quando tropeço neste "A Vida É Bela", que não tem nada a ver com os 2 primeiros trabalhos dele, devido à "contribuição" italiana. O filme parece-me ser uma confusão e mistura de 2 estilos de cinema diferentes: O "realismo soviético" vs. "Filme policial italiano anos 70".
A versão italiana (que deve andar perdida), não tem censura e é mencionado abertamente Angola e Portugal. A versão soviética (ainda) tem censura, a nível de díalogos, onde é omitida qualquer referência a Portugal e Angola. Os motivos disto podem ter sido vários. A informação sobre o filme é escassa.
Se alguém estiver curioso sobre o estilo deste realizador, este é o trailer que usei, acerca do 2º filme dele (A Balada Do Soldado, de 1959). Já com câmaras montadas em jipes, comboios, e com tanques a passar por cima delas, embora o cameraman desse filme não seja o mesmo aqui (As cenas de Lisboa têm 2 cameramen, um italiano e um soviético):
I was offered a statement. The Italians came to Moscow and said
- We want to take a progressive film. But in Italy we have the money is not given, so we have decided to offer you a joint project, the film is half funded by the Soviet Union. A director will let Chukhray.
Of course, for me it was very interesting. While the Italians were shooting very good movies. I wanted to understand how the Italian film industry. I agreed.
The first thing I insisted that I was included in the co-authors of the script. Under our conditions I knew that without the co-author can not change anything.
When the script was almost ready, starring Ornella Muti and Gian Carlo Giannini suddenly said, "Here, in this and in this episode we will not be removed."
I was surprised:
- Why? .. You yourself have asked me to be a writer.
- Check out our contract, - they said to me - it says that if we do not like any replica, we will not pronounce them.
What to do? I decide to turn to our Minister of Cinematography Ermash.
I called him from Italy and I say:
- I do not know how to be. I wrote the script, and they require different!
I hear in response:
- Yes shoot what they say, but rather come back! ..
Ermash at that time was very afraid: then, if someone did not come back from abroad, the minister was considered guilty.
I realized that would have to come out of the situation yourself. To the best of opportunities began to struggle, but some things are rewritten.
Finally, we started to shoot. One day a producer comes and says,
- You know what, this one, this one and this episode we will not shoot.
I wonder:
- Why?
- Because I got today from our suicide note saying that they have finished off if we remove these episodes!
- How is that? .. - I say. - First of all, there's nothing there about terrorists, and secondly, you yourself agreed to this script!
- Yes ... well ... you know ... If you want, I'll be thrown out of the window!.
- Do not make me these Italian stuff! - I answer.
Again calling Ermash so and so. Ermash again says:
- Yes shoot everything they say there, just come over soon!
Do nothing, and agree with this ...
My film "Life is Beautiful" is dear to me, as all my pictures. There is nothing for which I would be ashamed of - and from an artistic and from a moral point of view. But, unfortunately, he suffered the misfortune of most films together - often they have always been worse incompatible. During the operation took place is a typical situation: each side pulled the blanket over himself, and the director had to somehow keep balance while being careful with the third party to solve a problem and your creativity. Typically, this situation is bound to fail.
After finishing the film, I gave myself a word: more in joint productions I do not participate."
A minha análise e interpretação:
1) A ideia do filme partiu dos italianos.
2) Não é um filme sério acerca de Portugal. Isto é, podia ser passado e filmado noutro País. Não me parece que exista motivação política, histórica ou de outra natureza semelhante.
3) Os produtores italianos "enganaram" a URSS, na medida em que apenas queriam que a URSS pagasse metade do filme. A URSS aceitou na condição contractual de que o realizador russo poderia melhorar o argumento.
4) O realizador russo, telefonou ao Ministro soviético a queixar-se da má onda dos produtores italianos.
5) O que o filme tem de bom, se calhar é graças ao realizador e cameraman soviéticos, porque os italianos comportaram-se vergonhosamente como os mafiosos de Hollywood. Basicamente os produtores disseram o dito, por não dito, e invocaram uma cláusula técnica para impedir que o realizador mexesse no argumento
Os meus vídeos, que foram os primeiros clips que fiz de um filme há poucos anos atrás. Cinematografia soviética, com câmaras de filmar montadas em carros portugueses, é extremamente irresistível...
Operação Stop de controlo da PIDE, na ponte 25 de Abril, filmagem de dentro do táxi, com metralhadoras apontadas:
E para terminar, a nossa Lisboa de 1979, com toda a potência das técnicas avançadas de cinematografia soviética:
Imagens:
Observação: Eu vi este filme, quando era gratuito, legendado em inglês, no site do estúdio Mosfilm. Mas agora, o filme continua a ser gratuito mas sem legendas, o que é um problema...
Nota: Se alguém quiser que eu verifique se já existem legendas para o filme ou indique o stream oficial do estúdio Mosfilm (sem legendas), perguntem! Reparem que normalmente a malta não se interessa por estas velharias, e eu escrevo para o boneco...
Entretanto lembrei-me de mais duas situações que justificam este cantinho off-topic, a primeira é a ficção científica infantil soviética, que rebenta com a escala da ficção científica de adultos do cinema americano (anterior a 1991), e nesse caso eu até poderia falar dos filmes na secção normal do fórum Xploited, mas uma coisa é a letra das regras do fórum, em que sci-fi é ok, e outra coisa é o bom-senso da minha parte, em que presumo que não seja espectável aparecem tópicos infantis na secção normal do fórum, apesar desse tópicos poderem ter interesse pela sua estranheza e factor insólito.
A segunda situação é a censura ética-moral imposta às crianças de agora (a minha geração esteve livre dessa censura), mas aqui terei de ter algum cuidado.
Mas para já venho falar de um conto de fadas (ou folclore ou conto tradicional europeu), que gostei de ver em adulto, e que para mim possui mais maturidade, inteligência e qualidade do que os supostos filmes para adultos de Hollywood, que é um super co-produção internacional entre a Roménia, Checoslováquia e União Soviética, do ano 1983, com banda sonora mítica criada pelo conceituado compositor Alfred Schnittke. Também aparece uma matança do porco, à boa maneira portuguesa (europeia), que já vi em Portugal nos anos 80, mas é algo que nunca vi no cinema norte-americano.
Trata-se de uma análise grande feita por mim, que eu suspeito que possa interessar ao pessoal do Xploited, mas que não encaixa directamente nos temas do fórum, e por isso fica bem aqui neste meu cantinho.
Texto colocado em spoiler pela sua extensão!
Spoiler:
Pohadka o putovani (literalmente: Conto das Viagens)
Título original primário (russo): Сказка странствий Título original secundário (checo): Pohadka o putovani Título original terciário (romeno): Povestea calatoriilor
Conto de fadas de complexidade filosófica e satírica, com maturidade e sofisticação para as audiências adultas e simultaneamente possuidor de fascínio, encanto e puro terror, para audiências infantis.
Alfred Schnittke foi um conceituado compositor russo do séc. XX, que eu não conhecia, antes de ouvir o trabalho dele neste filme. O texto seguinte é muito interessante:
It was Mozart and Schubert, not Tchaikovsky and Rachmaninoff, whom he kept in mind as a reference point in terms of taste, manner and style. This reference point was essentially Classical ... but never too blatant."[2]
In 1948, the family moved to Moscow. Schnittke completed his graduate work in composition at the Moscow Conservatory in 1961 and taught there from 1962 to 1972. Evgeny Golubev was one of his composition teachers. Thereafter, he earned his living chiefly by composing film scores, producing nearly 70 scores in 30 years.[4] Schnittke converted to Christianity and possessed deeply held mystic beliefs, which influenced his music.
Schnittke and his music were often viewed suspiciously by the Soviet bureaucracy. His First Symphony was effectively banned by the Composers' Union. After he abstained from a Composers' Union vote in 1980, he was banned from travelling outside of the USSR. In 1985, Schnittke suffered a stroke that left him in a coma. He was declared clinically dead on several occasions, but recovered and continued to compose.
In 1990, Schnittke left Russia and settled in Hamburg. His health remained poor, however. He suffered several more strokes before his death on August 3, 1998, in Hamburg, at the age of 63. He was buried, with state honors, at the Novodevichy Cemetery in Moscow, where many other prominent Russian composers, including Dmitri Shostakovich, are interred.
in Wikipédia
Bom, parece que o compositor Alfred Schnittke teve um impacto e dimensão no cinema russo, equiparados ao compositor Jerry Goldsmith nos filmes americanos de Hollywood. Mas o estilo musical é outro. Eu só sei que uma banda sonora composta por ele é realmente um luxo neste filme, e faço questão que oiçam e vejam este tema que ele compôs para o filme que estou a discutir:
Realizador
Alexander Mitta (1933 - )
O realizador russo Alexander Mitta ainda está vivo e no activo, a fotografia acima foi tirada em 2012, com ele sentado na cadeira de realizador, na altura um "velhinho" de 79 anos de idade.
Alexander Mitta antes de se diplomar em realização de cinema, no ano de 1960, estudou engenharia civil e diplomou-se em arquitectura no ano de 1955, de seguida trabalhou como desenhador ilustrador criativo de cartoons de sátira humorística em revistas.
Este background poderá ser relevante, porque Alexander Mitta foi um dos três argumentistas deste filme, que faz uma homenagem muito intensa ao Leonardo da Vinci, e ao espírito dos cientistas, engenheiros, filósofos, médicos e artistas que retiraram a Europa da Idade das Trevas.
Prémios e honras, auto-traduzidos do wikipédia russo (não se pode traduzir decentemente para português):
Merits and achievements
For the film " My Friend, Kolka! ":
- Critics Award for Best Film 1961 - Prize at the International Film Festival in London (1961)
For the film " Calling, open the door ":
- "Big Golden Lion" prize and Catholic jury at the XVIII International Festival of Films for Children in Venice - Moscow Komsomol Prize (1966)
For the film " The point, period, comma ... ":
- "Silver Award" in the contest of children's films at the VIII International Film Festival in Moscow (1972) - the main prize at the IV «Parade of children's films" in Belgrade (1972) - "Silver siren" - Selection Prize Festival of Soviet films in Sorrento (1972) - Prize of the International Children's Film Festival in Salerno (1972) - Lenin Komsomol Prize (1972) - winner of the All-Union Film Festival in the category "Winners of children's films" for 1973
- Honored Artist of the RSFSR (1974) - Winner of the All-Union Film Festival in the category "Film Festival Awards" for 1980 - Laureate of the State Prize of the Russian Federation for 2001 (2002) - for the film " Border. Taiga novel " [9] - People's Artist of the Russian Federation (2004) - for his great contribution in the field of art [2] - In March 2008 awarded the Order "For Services to the Fatherland" IV degree [10] - Honorary member of the Russian Academy of Arts [11] - Special Prize "for his contributions to the cinema," [12] XXIV Open Russian Film Festival " Kinotavr "in 2013 - "an outstanding filmmaker, strict tutor, mischievous storyteller" [13] [14] .
Algumas imagens
O conto das viagens
Esta obra é uma das pérolas cinematográficas do extinto bloco político de leste, a originalidade do filme é de tal ordem, que é difícil aproximar comparações com géneros convencionais da indústria de cinema ocidental.
O que temos aqui é algo de novo e insólito, este filme finge que é um conto de fadas, e depois entra a matar com filosofia, ciência, moral, sátira social e política, com uma elegância e inteligência tremenda e eficaz. Ao mesmo tempo, temos um filme simples que qualquer pessoa, incluindo uma criança de 3 anos de idade, pode apreciar e acompanhar.
Esta proeza do mesmo filme agradar a crianças e a adultos, deriva da inteligência do argumento acompanhada com uma belíssima execução artística, mas sempre em nome da lógica e com respeito por ela, porque aqui não existe "cinema intelectual".
Passou um mês, desde que escrevi a extensa ficha técnica no cabeçalho, até eu me sentir com coragem para analisar e descrever este filme. A minha dificuldade é existirem tantos temas interessantes para abordar, que são demasiados para a natureza de uma crítica de cinema, que não sei quais deles hei-de focar e mencionar.
A mensagem que quero transmitir é que este nao é um filme infanto-juvenil, e pelo contrário é um filme com grande originalidade e genialidade, que poderá interessar a quem aprecie a sua natureza... Será essa natureza que tentarei mostrar na minha apresentação do filme.
Bem vou começar com o consumo de bebidas alcoólicas por crianças, conforme a imagem acima.
Os dois irmãos estão tristes porque a garrafa está vazia e não têm "pinga" para beber. Eu admiro o cinema destes três países da europa de leste (Checoslováquia, Roménia e Rússia), pelo realismo de mostrar uma Idade Média em que as crianças bebem vinho, e pela forma naturalíssima como o mostram.
Aliás já mostrei alguns filmes insólitos do cinema de leste a amigos meus, e o comentário deles foi do género "os gajos soviéticos não tinham pudor / pudismo nenhum", refiro-me por exemplo ao filme infantil da pequena sereia (co-produção internacional do bloco soviético, com grandes recursos), em que ela aparece toda nua, para criança ver.
Eu tenho visto muitos filmes do cinema de leste e esta moralidade choca por completo com o "nosso lado" da europa no cinema, com muito pudor importado de Hollywood. O que nós vulgarmente chamamos de cinema europeu, deveria antes ser chamado de cinema do bloco militar da NATO, porque a Roménia, Polónia, República Checa, Eslovénia, Bieloerússia, Moldávia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Ucrânia, Rússia, etc. são países europeus e o cinema europeu desses países europeus nada ou pouco tem a ver com o que os portugueses apelidam de cinema europeu. Por isso deve existir uma distinção entre cinema europeu de leste e "o outro" (em que o outro é o cinema da NATO, do qual Portugal faz parte, incluindo o Manoel de Oliveira).
Esta conversa toda do parágrafo anterior aplica-se a este filme de 1983 e ao contexto em que ele foi feito, pois em Dezembro de 1991 a União Soviética desintegrou-se, e a partir daí deixa praticamente de existir o tal cinema de leste.
Perante isto, irei mostrar um clip que criei, que mostra uma taberna com prostitutas, e a "matança do porco". Como todos sabemos, quando compramos fiambre, salsichas e bifanas no supermercado, é sinal de que algum porco foi morto algures. Os donos de Hollywood não gostam de mostrar matanças de porcos no cinema e televisão, mas isso é lá com eles, aqui está o clip preparado por mim:
Ainda neste ângulo do pudor do cinema, pelo qual estou a abordar o filme, tenho a dizer que a história começa com um bandido vestido de pai natal, a descer pela chaminé e a raptar um menino que é posto dentro do saco. Isto é mesmo para assustar as crianças que viram o filme, mas reparem que a tradição oral europeia dos contos populares continha estes mesmo tópicos, e a ideia dessas histórias populares, contadas à lareira pelos avós, era mesmo de assustar os meninos e colocá-los prevenidos, de pé atrás.
Esta é uma boa altura para eu escrever um bloco acerca do contador de histórias grego Esopo, conhecido de todos os portugueses pelo seu trabalho, mas que à primeira vista não estarão a associar. Refiro-me ao autor das fábulas da "Formiga e da Cigarra" e do "Pedro e o Lobo", escritas por ele no século VII antes de cristo.
Hellenistic statue claimed to depict Aesop, Art Collection of Villa Albani, Rome
As fábulas de Esopo são uma coleção de fábulas creditadas a Esopo (620—560 a.C.), um escravo e contador de histórias que viveu na Grécia Antiga.1 As fábulas de Esopo tornaram-se um termo branco para coleções de fábulas brandas, usualmente envolvendo animais personificados.
As fábulas remontam uma chance popular pra educação moral de crianças hoje. Há muitas histórias incluídas nas fábulas de Esopo, tão como A raposa e as uvas (de que a expressão idiomática "uvas verdes" foi derivada), A Cigarra e a Formiga, A tartaruga e a lebre, O vento norte e o sol e O menino que gritava lobo, O Lobo e o Cordeiro são bem conhecidas pelo mundo afora.
Assim, podemos dizer que em toda parte, a fábula é um conto de moralidade popular, uma lição de inteligência, de justiça, de sagacidade, trazida até nós pelos nossos Esopos.
No século III d.C. Apolônio de Tiana, o filósofo do século I d.C. recordou como tendo dito sobre Esopo:
"como aqueles que jantam bem nos pratos mais planos, ele fez uso de humildes incidentes para ensinar grandes verdades, e após servir uma história ele adiciona a ela o aviso para fazer uma coisa ou não fazê-la. Então, também, ele foi realmente mais atacado para verdade do que os poetas são"
Lamento ter citado a versão brasileira do wikipédia, pois eu pessoalmente prefiro a língua inglesa que entendo melhor do que a variante brasileira da minha língua materna, mas por vezes fico na dúvida se preferem que eu cite fontes em inglês ou PT-BR do wikipédia. (É uma pena não haver uma versão PT-PT do wikipédia),
De qualquer modo, este Espopo foi um contador de histórias que era escravo na Grécia Antiga, e estamos perante um intelectual que escrevia literatura de intervenção contra o regime. Este sujeito foi o verdadeiro Sábio do nosso imaginário, que dava lições de lógica, moral e inteligência, "como quem limpa rabos a meninos".
Em relação ao filme alvo desta análise, eu julgo que merece esta comparação e associação às fábulas escritas há 2700 anos atrás pelo escravo inteligente Esopo. Este é um grande e belíssimo fime, que merece tal elogio da minha parte.
Um aspecto de filme que adorei completamente é o tribunal da inquisição, e por isso criei um video (legendado em inglês) para verem, pois é melhor do que eu tentar descrever por palavras.
Não sei mais o que escrever, eu adoro este filme e acho que é uma das pérolas do cinema de leste da era soviética. É um estilo de filme muito raro no ocidente ou se calhar até inexistente, por isso é díficil falar dele num fórum português. Existe um filme inglês chamado "A Companhia dos Lobos" que é próximo desta onda, mas com estilo e abordagem completamente diferentes.
Vou terminar com a minha classificação, mas irei justificar a nota que vou dar, para que possam entender o critério que eu uso pessoalmente. Afinal se eu atribuo uma nota, será para guiar os outros...
Ora bem, se eu gosto ou não é pouco relevante na minha nota, neste caso vou olhar para o género do filme. Trata-se de um conto de fadas para adultos, e este vai cair em 3º ou 4º lugar em todos os filmes do género que conheço feitos entre 1900-2014. O filme "três nozes para Cinderela" é o supra-sumo da arte e técninca e a esse já atribuí 100%, depois temos o "Sal mais que o ouro" da Eslovénia e também não esquecer a "Companhia dos Lobos" de Inglaterra. Este fime tem diversos (pequenos e irrelevantes) problemas cinematográficos e à partida a nota ia para a casa dos 80% por causa deles, pois técnica e artisticamente é inferior ao "Companhia dos Lobos", mas como o argumento é extremamente inteligente, irá levar um bónus e por isso a minha nota pessoal será:
93% (Pela inteligência do argumento)
Última edição por Zé da Adega em Sáb Jun 20 2015, 11:03, editado 1 vez(es)
Se calhar mais tarde irei editar e colocar alguns tópicos em spoiler (por serem gigantes como o anterior), conforme o desenrolar do tópico e as vossas sugestões.
Na minha próxima mensagem quero mostrar uma das minhas tais críticas insólitas e bizarras à ficção científica infantil soviética, mas antes disso gostava de partilhar um clip do desenho animado norte-americano dos anos 50 "Speedy Gonzales", em que o personagem canta a música "La Cucaracha" onde diz que já não tem marijuana para fumar.
O que se passou aqui é que os norte-americanos (leia-se produtores e donos dos estúdios, não o povo) são tão prepotentes, incultos/ignorantes e racistas, que não se deram ao trabalho de verificar que estavam a falar de drogas em espanhol.
Missão tripulada à constelação de Cassiopeia, de acordo com a dilatação de tempo de Einstein, que obriga, por um lado, à necessidade de uma tripulação com idade máxima de 14 anos, para sobreviver à ida e volta no referecial próprio de tempo da nave, e por outro, implica passagem de séculos, com retorno no futuro longinquo da Terra.
Trailer amador:
Prémios:
- Premio for the Best Film for Kids of the All-Union Cinema Festival, Baku, 1974 - Special Premio of the International Cinema Festival of Science Fiction Films, Triest, 1975 - Special Prize of the International Cinema Festival (in the Children films category), Moscow, 1975 - Platero Prize of the International Cinema Festival as the film for the Kids and Youth, Gijón, 1975. - Diploma of the Moscow Technical Contest of the Films, UNIATEK congress, Moscow, 1976 - State Premio of RSFSR in the honour of Vasilyiev Brothers, 1977.
Notas:
A segunda parte do filme é o Teens in the Universe / Отроки во вселенной, de 1974. Não se justifica a criação de tópico ou ficha técnica separada para esta situação. A crítica irá incidir sobre o conjunto de ambos os filmes.
Aplicação correcta da Teoria da Relatividade Restrita de Albert Einstein no Cinema
Bem, vamos lá então "atacar" a crítica da mítica ficção científica infantil(?) russa... Respirar fundo... Aqui vai:
Primeiro há que separar o Cinema de Leste da era soviética em dois: No russo e no europeu. No que concerne aos dois géneros muito raros do terror e ficção científica a diferença é abismal. Aqui a Europa de Leste, por exemplo a Checoslováquia, Jugoslávia, Polónia, Roménia, etc. fazia filmes destes dois géneros, de uma forma mais convencional, familiar ou "normal". Mas na Rússia a história foi outra...
Basicamente ou o cinema russo abordava a ficção científica de uma forma "adulta", pelas mãos do realizador Tarkosvky, que entrava em devaneios intelectuais e fugia à essência da ficção científica, ou então o cinema russo fazia filmes sci-fi que eram "juvenis", mas com consultadoria científica a um patamar e nível tão altos, que nem sequer pode existir comparação possível com a ficção científica ocidental nesses termos.
Criei um excerto, com legendas em inglês sincronizadas por mim, para vermos de que raio estou a falar:
No clip anterior estão a comentar a consequência da viagem de ida e volta durar 500 anos no referencial da Terra, e que a ciência ainda não permite entender como aproveitar a curvatura do espaço-tempo, para criar um atalho mais curto/rápido.
A imagem seguinte é um close-up que recortei de um screenshot do filme:
Podemos ver o cálculo da passagem de 52 anos no referencial de tempo a bordo na nave (contra os 500 anos na Terra). Temos o factor Delta t (t1 - t0) multiplicado pelo coeficiente relativista, no qual a nave viaja a uma velocidade de 99,5% da velocidade da luz C. Isto é matemática elementar do 12º ano de escolaridade geral português. Embora o conceito de dilatação de tempo de Einstein já não seja geral ao 12º ano.
Nota: Não me dei ao trabalho de verificar os cálculos, mas à primeira vista parecem-me bem. Algum físico de serviço no fórum poderá querer entreter-se a verificar. Não verifiquei pela mesma razão de não ter traduzido as legendas do inglês para português. Falta de tempo e esforço a mais para a natureza da crítica.
Este filme "juvenil" não brinca em serviço, e desta forma justifica o uso de adolescentes de 14 anos para os tripulantes da nave espacial.
Agora se eles quisessem, subiam umas casas decimais à velocidade relativa da nave, e aí a viagem de ida e volta só durava 6 meses. A física e a natureza têm destas coisas!
Mas os estúdios Gorky queriam um filme que apelasse a adolescentes (e não só), e o governo da URSS também devia querer um filme pedagógico que inspirasse a juventude na corrida científica ao espaço, por isso a capacidade do motor relativista de aniquilação é essa, e não outra.
Este motor relativista de aniquilação, significa duas coisas:
1) Nave espacial nuclear descrita por Carl Sagan na série Cosmos, baseada numa sucessão de várias explosões nucleares por segundo.
2) Julgo que a reacção nuclear de aniquilação seja do estilo aniquilação de pares positrão-electrão, em que a anti-matéria e matéria se aniquilam uma à outra, com conversão em energia muito alta, do estilo fazer a bomba nuclear de hidrogénio parecer um estalinho que se pisa no carnaval.
No filme este efeito é visto no piscar intermitente dos escapes na nave, várias vezes por segundo. Não venham agora dizer que o efeito especial é foleiro, e não é tão fixe como nos filmes de Hollywood, vejam o Cosmos do Carl Sagan para justificação científica.
O segundo e último excerto que criei foi este, que explora o impacto do efeito de dilatação de tempo de Albert Einstein. Passagem de 28 anos da Terra vs passagem de 1 ano no referencial temporal na nave. Também com legendas em inglês sincronizadas por mim (activem o botão "CC"" no You Tube):
Em todo o rigor científico, a nave espacial atravessa acidentalmente um buraco negro do tipo Kerr-Newman, e completa a viagem de ida em apenas 20 anos (na Terra), ao contrário dos 250 anos previstos, mas a premissa da dilatação de tempo mantêm-se independentemente desse acidente e do "atalho" criado. Irão sempre demorar 250 anos no regresso, mas o filme infelizmente não mostra essa parte.
Nem tudo é bom neste filme. Até agora apenas foquei as qualidades. É um filme multi-género dirigido a jovens. Por exemplo odiei a parte infanto-juvenil e o sub-género de comédia. Tive de ter muita paciência e pachorra. Não é um filme que recomende ou aconselhe a ninguém do fórum.
A ideia deste texto é mesmo apenas de âmbito de curiosidade e cultura geral de cinema. Se alguém a seguir vai ver o filme ainda se zanga comigo pelo seu lado estúpido e parvo. Fica o aviso!
Os jovens quando chegam ao planeta, encontram as ruínas de uma civilização exterminada pela Inteligência Artificial e robots. Estes robots são estúpidos e idiotas, é como se os Borg do Star Trek tivessem assimilado um planeta de palhaços, e tivessem ficado todos borg palhaços. Muito mau... e com as músicas disco dos anos 70 então, nem falar...
Não sei mais o que diga, o filme é desequilibrado... tem coisas muito boas e outras muito más... A ficção científica russa infanto-juvenil é assim...
Pelo menos agora já ficam com uma ideia...
A minha classificação será de 8/10, pela originalidade e respeito pela Física.
Mais alguns screenshots:
Última edição por Zé da Adega em Seg Jun 22 2015, 19:19, editado 1 vez(es)
Mudando de assunto, este é um clip da série espanhola "Verão Azul", que a RTP transmitiu em Portugal nos anos 80, e que eu estive recentemente a rever alguns episódios no streaming gratuito da TVE.
Aqui podemos ver os miúdos a fumarem e a beberem copos:
Até nem sei se não deveria ser criado um tópico de discussão acerca da censura infantil, imposta às gerações que vieram depois da minha.
Fiquei muito preocupado quando li no wikipédia que o o autor do Lucky Luke (cowboy com cigarro na boca), foi pressionado pelos norte-americanos, a não poder desenhar o cowboy a fumar, e até a banda desenhada infantil Petzi que eu lia em menino, foi totalmente censurada (na Europa) e apagaram o cachimbo do almirante em todos os livros.
O problema do "politicamente correcto" e a perda de liberdade das crianças, é que na Alemanha Nazi era politicamente correcto exterminar judeus, e quando se proíbe a uma criança ver um almirante a fumar cachimbo, porque não proibir a todos os adultos a venda de sal e açúcar, que fazem mal à saúde? Qual o peso e medida da perda de liberdade? Será esta uma boa questão para nos debruçarmos?
Vídeo poético feito por mim do Verão Azul, que nada tem a ver com esta conversa sobre censura e actos politicamente incorrectos e religiosamente imorais, é apenas um clip bonito de uma série com maturidade:
Zé da Adega escreveu: ... e até a banda desenhada infantil Petzi que eu lia em menino, foi totalmente censurada (na Europa) e apagaram o cachimbo do almirante em todos os livros. be]
Ainda tenho essa colecção, até acho que está completa.
Fico contente por mostrares os livros do Petzi à tua filha. A colecção completa são 36 livros (eu acho que só tinha os primeiros 26), conforme wikipédia português: https://pt.wikipedia.org/wiki/Petzi
Em dinamarquês o tipo chama-se Rasmus Klump, e tens aqui o site oficial com bonecada e vídeos para mostrares à tua filhota: http://www.rasmusklump.dk/
Eu "lia" os livros (via os bonecos) antes de aprender a ler, quando tinha 6 anos. Entretanto aprendi a a ler, e até aos 8 anos pedia à minha mãe para continuar a comprar a colecção (a primeira metade era da minha irmã mais velha). A partir daí já preferia os livros juvenis do Tio Patinhas e deixei-me de Petzis e Estrumpfes...
Mas eu zango-me quando os dinamarqueses re-editam os livros originais e censuram o cachimbo do Almirante, porque se trata de uma táctica estalinista, idêntica ao que o ditador Estaline fazia, quando mandava matar pessoas e depois ordenava que adulterassem fotografias, para apagar as vítimas das fotos. Os dinamarqueses estão a entrar em extremismos morais (desta vez a culpa não é dos americanos), em que tentam apagar e adulterar os livros que a minha mãe me comprou nos anos 80. Isto é mais grave do que o Lucky Luke, em que apenas deixa de fumar nos anos 90 mas não voltam atrás a apagar os cigarros das histórias dos anos 70.
Até pode parecer que estou a criar uma tempestade num copo de água, pois afinal são livros infantis que não me dizem nada, mas se pensarem na série de animação japonesa "Space Battleship Yamato", que possui bastante maturidade com alcoolismo, tortura, apalpanços a rabos de mulheres, pancadaria, genocídios, morte violenta e dramática de quase todos os personagens, comandantes a suicidarem-se com um tiro na cabeça, perante a derrota, etc. que é uma série que eu adoro enquanto adulto, se calhar não me agrada ver os europeus armados em puritanos, e qualquer dia censuram a série japonesa como os americanos já o fizeram...
Exemplo: Clip com alcoolismo, transmitido pela RTP 2 em Portugal, num espaço para os mais novos, mas que foi censurado nos E.U.A.
Eu também entendo as razões legítimas, porque alguns pais queiram proteger os filhos de maus exemplos nos desenhos animados, mas não me parece que a censura (na fonte) seja o caminho mais indicado...
Observação: Esta crítica velhinha que escrevi há três anos atrás, é uma das razões de ser deste meu cantinho. O filme foge completamente às regras do fórum, mas a malta que gosta de ficção científica poderá adorar isto, até porque o filme é gratuito no You Tube, no canal oficial do estúdio, e apresentarei o link directo legendado, no final do texto.
O filme é acerca de um físico nuclear exposto a uma dose letal de radiação que sabe que vai morrer. A carga dramática é muito forte mas o meu destaque vai para os meios gigantescos que o estado soviético colocou à disposição do cinema (apoio de consultores e acesso a centrais nucleares), que fazem os desgraçadinhos de Hollywood parecerem um país probrezinho de terceiro mundo no cinema.
Num filme desta natureza (drama científico), os americanos são como o Marco Paulo a cantar em playback junto dos feirantes a vender farturas, mas os russos eram como o Beethoven e Mozart a comporem uma sinfonia para uma orquestra. Aqui fica a introdução brutal carregada por mim, para darem uma espreitadela:
O consultor deste filme foi o gajo que inventou o reactor Tokamak, utilizado no Centro de Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico em Lisboa, em parceria com o CERN (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear). Aqui não há pão para malucos, e esta preciosidade de filme é o artigo genuíno de drama científico, com realismo.
A minha crítica possui divulgação científica feita por mim... Eu sou um gajo de ciências e gosto destas coisas. Não sou de letras e não sei escrever bem, mas faço o melhor que posso. Espero que gostem de ler e ver os videos...
Nine Days in One Year* (Девять дней одного года) * Sem título em português Drama (111 min)
Data de Estreia: 5 de Março de 1962 País de Origem: URSS: Rússia Realização: Mikhail Romm Argumento: Daniil Khrabrovitsky e Mikhail Romm Actores Principais: Aleksey Batalov, Innokenty Smoktunovsky e Yevgeniy Yevstigneyev
Resumo: Como o título sugere, este filme aborda 9 dias num ano, na vida de um físico nuclear, que realiza pesquisa experimental em reactores de fusão termonuclear e que é exposto a uma dose letal de radiação. A consultadoria científica esteve a cargo do físico Igor Tamm, galardoado com o prémio Nobel da Física em 1958 e criador do reactor de fusão termonuclear Tokamak, utilizado hoje em dia.
Este filme, que celebra agora 50 anos, retrata o início da fusão nuclear experimental controlada, que culminou em 2010 no início da construção do ITER, em França, que se trata do maior projecto internacional, à escala planetária, a que a humanidade assistiu, será a primeira central de fusão nuclear viável (que produz mais do que consome), com montagem final do reactor Tokamak e início de operações previsto para o ano 2019, obtenção de plasma ionizado em 2020 (que matou o 1º cientista, no início do filme) e finalmente em 2027 a reacção de fusão entre o Deutério e Trítio (com a libertação dos neutrões referidos no filme), à plena carga nominal.
Citando a organização do ITER:
"By the last quarter of this century, if ITER and DEMO are successful, our world will enter the Age of Fusion—an age when mankind covers a significant part of its energy needs with an inexhaustible, environmentally benign, and universally available resource."
2) Abordagem do filme
Este filme não tem uma abordagem científica, não é uma história de amor e muito menos um filme artístico. Trata-se de um filme de grande qualidade e originalidade, produzido pelo Ministério Cinematográfico da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, com a consultadoria da autoridade máxima mundial sobre o tema, o fìsico Igor Tamm, vencedor de um Nobel da Física e criador do reactor Tokamak, actualmente em construção em França. O filme conta ainda com instalações de pesquisa nucleares pormenorizadas, com o rigor e credibilidade das grandes produções soviéticas.
O filme começa com grande humildade, com uma nota do autor, numa espécie de pedido de desculpas por alguma imprecisão técnica, que possa por ventura ofender algum físico nuclear, e explica que não é uma história sobre ciência, mas sim uma história sobre seres humanos, a imagem de fundo é uma filmagem aérea em aproximação ao centro de pesquisa nuclear, com os créditos a rolarem.
Na primeira cena do filme soam as sirenes de perigo, cientistas correm e trancam grandes portas herméticas blindadas anti-radiação, e vemos o professor e mentor do personagem principal, um homem morto acabado de ser exposto a uma dose de 800 Roentgen, a anunciar feliz que alcançou o estado de plasma ionizado.
3) Opinião
Eu pessoalmente adorei o filme e recomendo a toda a gente, é um filme que mostra os dilemas morais e filosóficos dos cientistas, relacionados com a bomba de hidrogénio, guerra, ameaça nuclear norte-americana, equilíbrio do terror e até já se preocupavam com o aquecimento global.
O objectivo da minha crítica foi mostrar o ângulo científico, aguçar a curiosidade e realçar a importância para a humanidade do trabalho dos personagens do filme, existem bastantes críticas convencionais a este filme, na internet, a começar pelo IMDB, que dizem o que acabei por não dizer.
4) Link
O filme é disponibilizado gratuitamente, via streaming, pela Mosfilm:
É mesmo o Fernando Pessa? Foi díficil de o encontrar no filme, estilo Onde está o Wally?
Para a rapaziada jovem que não sabe quem foi o jornalista Fernando Pessa:
Famoso jornalista português Fernando Pessa, que morreu em 2002 aos 100 anos de idade, aqui vestido de Nazi, no filme "The Boys from Brazil" (Original) / "Os Comandos da Morte" (PT-PT), de 1978, filmado em Portugal.
Trata-se de um filme com maturidade, inteligência e qualidade, que descobri há apenas dois anos atrás. Embora a sinopse possa sugerir um filme italiano ou americano da treta dos anos 80, com enredo imbecil, não é o caso, pois esta é uma obra de qualidade.
Existe uma bela ficha técnica e uma excelente crítica cinematográfica portuguesa no fórum DVD Mania, feitas há dois anos atrás. Eu não sou autor de nenhuma delas mas gostaria de partilhá-las aqui:
A minha contribuição pessoal foram os seguintes screenshots criados por mim:
Lisboa - Belém:
Lisboa- Zona A
Lisboa- Zona B
Lisboa - Diversos
Que aldeia é esta?
Mais imagens:
Spoiler:
Será o Aeroporto da Portela? Já se passaram tantos anos, que não reconheço a silhueta de Lisboa... O aeroporto tinha um terraço aberto aos visitantes nos anos 70?:
Bairro de barracas, onde terá sido filmado isto?
Esta fazenda brasileira com helicópteros e hidro-aviões a aterrarem foi reconstituída em Portugal?
A viagem a Lisboa é crítica e por isso o filme reconstitui a Lisboa do séc. XVIII antes do terramoto, mas de resto o filme é sobre ingleses e não envolve Portugal.
O filme está bem feito a nível científico e uma das personagens é o astronomo Edmund Halley.
Comentário: Mais uma das minha críticas velhinhas a filmes insólitos... Eu dei-me ao trabalho de ver este filme sem legendas (não existem legendas em nenhum idioma), sem entender nada de russo. Não aconselho ninguém a tentar ver este filme, pois ele vale apenas como curiosidade histórica e insólita de cinema, mas espreitem os trailers amadores que coloquei, que para mim são espectaculares e geniais. Cuidado que isto é a premissa concretizada do filme "Star Trek II: The Wrath of Khan" (teste Kobyashi Maru), que os fãs do Star Trek nunca puderam ver...
The Big Space Travel / Большое космическое путешествие
Ficção científica infantil soviética. Experiência e teste psicológico a três crianças, seleccionadas para um voo espacial, na nave espacial Astra. As crianças, julgando tratar-se de um voo autêntico, são submetidas a crises e avarias simuladas na nave espacial, ao estilo do teste Kobyashi-Maru da Star Fleet Academy.
Desta feita trago um filme egípcio, cujo argumento tem mais de 4.000 anos, e baseia-se num pergaminho hieroglífico que se encontra num museu britânico. Epá! Eu já sei que isto não tem nada a ver com o tema deste fórum, mas é para isso que serve este cantinho do off-topic. Isto é poderoso a nível de curiosidade insólita histórica, e eu lá descubro estas coisas que deviam ser noticiadas em revistas e jornais, mas não são.
Início do pergaminho:
Reparem que no Antigo Egipto, os camponeses e família (mulher e filhos) bebiam cerveja todos os dias. Acho que o Homer Simpson gostaria de ter sido um camponês egípcio. Bem como algumas pessoas que conheço.
Este pergaminho é mesmo muito interessante.
O Camponês Eloquente*
Conto/Histórico (21 min) - Título Original: "الفلاح الفصيح (Al Fallah El Fasseeh) / The Eloquent Peasent" *Título português oficial, do pergaminho egípcio.
Data de Estreia: 1970 (Egipto). Realização: Shadi Abdel Salam.
Sinopse: "No tempo do rei Nebkauré Kheti, um dos três monarcas que sabemos terem existido no período heracleopolitano e do qual pouco mais se sabe do que o nome, o camponês Khuenanupu desloca-se do Uadi Natrun, no deserto líbio, rico em lagos salgados, ao Vale do Nilo, para trocar os seus produtos por outros de que necessita. No caminho é agredido e roubado por Nemtinakht, filho de um proprietário local, Iseri, dependente do grande intendente Rensi. O camponês não conseguindo resolver o caso no local, dirige-se a Neninesu para apelar ao próprio Rensi, que fica impressionado com a qualidade do seu discurso." (Sinopse oficial do pergaminho pela Universidade de Lisboa).
O argumento do filme é mesmo baseado no pergaminho hieroglífico com quatro mil anos, mas infelizmente trucidado por um realizador egípcio armado em Manoel de Oliveira.
Não sei até que ponto isto é facto ou ficção, pois a história envolve um camponês injustiçado, que falava tão bem, que o faraó mandou os escribas registarem tudo o que ele dizia.
A história do pergaminho, é uma janela no tempo para uma sociedade, que existiu há 4000 anos atrás, de grande interesse e curiosidade histórica, mas o filme é péssimo e serviu apenas para chamar a atenção do pergaminho, para futura leitura no site da Universidade de Lisboa, aqui:
Este texto em PDF, contém a tradução oficial portuguesa, de todo o pergaminho. A sinopse que usei foi retirada daqui, infelizmente este texto é parte de uma obra maior, e por isso não contém o autor, para que eu o possa creditar.
Quanto ao filme, não gostei nada dele, pois omite grande parte da história. Farei uma analogia, para explicar o problema:
Imaginem que um realizador português, da corrente pseudo-intelectual artística, decide fazer um filme acerca da Sopa da Pedra, um popular conto tradicional português. Mas como o realizador é pseudo-artista, decide omitir quase todo o enredo da história, e só filma o mendigo a cozinhar a panela de sopa. De seguida surgem os críticos "Yes Men", paus-mandados fãs desse realizador, que dizem que o filme é "muito bom e artístico". Por último esse pseudo-filme é apresentado ao estrangeiro, que naturalmente não conhece a história da sopa da pedra, e não percebe nada do filme, mas dá prémios em Cannes, porque também no estrangeiro existem estes paus-mandados com a mania, sem personalidade, que vão atrás do que os outros pensam e acham.
Para mim o filme apenas serviu para divulgar o conto egípcio, escrito há 4000 anos, e ao menos nessa função foi positivo. Como filme por si só, não gostei.
Moral da história: Realizador "colega" pseudo-intelectual do Manoel de Oliveira a faltar ao respeito à história e literatura egípcia, armado em chico-esperto pseudo-intelectual.
Tenho conhecimento de uma situação quase idêntica ao "Camponês Eloquente", ocorrida em Portugal no Séc. XXI, quatro mil anos depois, que em vês de um burro, envolve um automóvel, e em que o juiz português, tomou decisão idêntica ao juiz do Antigo Egipto.
Um portuga chico-esperto, inteligente e conhecedor da actual lei portuguesa, morava numa rua em que o sinal de STOP não estava homologado. Esse sujeito decide deliberadamente provocar um acidente, não sei o motivo dele, mas talvez quisesse uma pintura nova no carro ou arranjar algum toque amassado que tinha no carro. O sujeito leva o assunto a tribunal e diz ao juiz português que a culpa é do outro automobilista, porque o sinal de STOP da rua dele não está homologado e é inválido pela legislação portuguesa.
O juiz português, com uma grande pinta, responde que nesse caso, o portuga chico-esperto agiu de má fé, e dá-lhe uma multa ou coima muito mais severa do que uma simples transgressão de trânsito!
Cuidado com isto! Atenção que temos o direito de guiar um automóvel, conforme as regras do código português, sem termos medo destes psicopatas chico-espertos a provocarem acidentes porque sabem que certa sinaléctica não está homologada.
Da mesma forma o camponês líbio da história anterior com quatro mil anos, também tinha o direito de ir de burro ao Egipto, trocar mantimentos, sem lhe aparecer um chico-esperto a confiscar-lhe o burro invocando uma lei egípcia, de que se o camponês pisasse as colheitas do malandro chico-esperto, ficava sem o burro e a carga.
Há 4.000 anos o juiz egípcio deu razão ao camponês líbio, e castigou o malandro que abusou da letra da lei, por esse agir de má fé.
Em 4.000 anos a sociedade não mudou muito, e continuam a haver estes malandros chico-espertos...
Este foi o meu pensamento do dia, que espero que tenham gostado de ler...
Desta feita venho explicar as origens do meu gosto pelo cinema de leste. Embora já tivesse referido isto há uns anos noutros fóruns, estou a escrever este texto hoje, e enquanto o escrevo até estou a carregar um vídeo no Vimeo.
Antes de descrever como a Cortina de Ferro apenas caiu no séc. XXI em Portugal, quero falar do cantor Sting, que no início dos anos 80 teve acesso aos programas infantis soviéticos, através de um amigo cientista de uma universidade de Nova York, que construiu um aparelho que permitia desencriptar o satélite televisivo soviético acima do Pólo Norte.
Tal como eu fiquei em completo estado de choque em 2007, quando tenho acesso em Portugal a programas soviéticos infantis pelo You Tube, o Sting ficou de tal modo impressionado pela programação infantil, que por causa disso criou a sua famosa canção de intervenção político-social "Russians" contra a guerra atómica.
Apresentarei de seguida um excerto carregado por mim, de um concerto gravado na cidade de Berlim em 2010, onde o Sting explica isto (aos jovens do séc. XXI) pelas suas próprias palavras, seguido da canção integral "Russians".
No meu caso, eu fiquei chocado e impressionado (em 2007) quando vi a mini-série russa de 1985 "Guest From The Future", que foi a primeira produção russa que eu vi na minha vida, devido ao bloqueio político pela RTP, durante e após a Guerra Fria, aqui está um trailer recente, criado em 2014 pelo Davidfromille (já aqui mostrei trailers de terror e exploitation, criados por ele):
E criei este excerto magnífico, com o rapaz dos anos 80 a voar de nave espacial sob os céus do futuro, tecnicamente muito bonito e bem feito:
Por último um trailer geral, com a banda sonora oficial da série:
Francês: Um bocadinho de queijo... e um trago de vinho... Mais um bocadito de queijo... e outro trago de vinho para lavar a garganta...
Italiano: E uma rodela de cebola!
Francês: Uma rodela de cebola... e talvez uma azeitona... e mais um copo de vinho...
É por estas e outras que eu defendo os tele-filmes americanos e dou na cabeça aos filmes americanos hollywoodescos de sala de cinema, feitos para adolescentes.
Após ter carregado este clip no You Tube, sinto uma vontade irresistível de ir abrir um Camembert que tenho no frigorífico, e uma garrafa de Bordeaux que tenho na dispensa... Até já!
Temos aqui um trabalho excelente de 1972, produzido pelo famoso Dino de Laurentis (Conan, The Barbarian), um produtor que não bloqueava a criatividade do cinema (uns filmes era bons e outros maus), numa co-produção entre a Itália e França:
Ainda não tive oportunidade de ver esse filme, mas adoro o trailer musical criado pelo francês Davidfromille, que é meu colega no You Tube e que também cria clips e trailers de cinema.
O trailer da co-produção europeia franco-italiana acima é excelente.
De seguida irei colocar um excerto meu de um filme húngaro a preto e branco, também com cinematografia excelente. Esta cinematografia húngara não será tão bonita, elegante e requintada como o clip franco-italiano anterior, mas possui algo de maravilhoso e insólito que não existia no cinema francês, italiano e norte-americano, nomeadamente algo chamado "encenação", em que o trajecto e posição do cameraman foi preparado e ensaiado durante meses, para dar ao espectador uma experiência visual que nunca existiu no cinema europeu ocidental ou no cinema norte-americano.
No exemplo seguinte, o cameraman vai a bordo de um jipe, e já vêm avionetas a voar, para sobrevoar o cameraman no lugar certo à hora certa, momentos mais tarde na filmagem contínua non-stop, para criar uma experiência imersiva para o espectador. As avionetas são apenas uma pequena peça do grande puzzle que terá sido encenar e preparar a filmagem maravilhosa que irei mostrar em seguida... também aparece lá uma mulher-soldado a fazer de polícia-sinaleira e um padre numa bicicleta
Quando eu, às vezes, elogio a cinematografia de leste refiro-me a este estilo de encenação e preparação de um circuito de filmagem contínua. Eu sei bem que em Portugal usam o termo fotografia para chamar alhos aos bugalhos e eu não gosto desse termo, porque um filme pode ter uma imagem bonita, que dá bons screenshots, mas se o cameraman está parado a coçar os tomates ou a bater punhetas (no modelo de cinema norte-americano), então a cinematografia vale zero. (mesmo que tenha ganho um óscar de fotografia).
Eu gosto de ver um cameraman a andar a pé atrás dos actores, dentro de um apartamento verdadeiro, com roupa suja no chão ao lado da máquina de lavar roupa, e a casa desarrumada, e esse era o procedimento standard dos filmes de leste, sem aquela artificialidade e propaganda dos estúdios a fingirem que eram apartamentos arrumados, das sitcoms americanas. Lamento mas gosto de ver roupa suja junto à maquina de lavar roupa nos filmes russos, porque esse é o mundo real, e não gosto de fantasias de filmes ocidentais em que o apartamento viola as leis da física!
Em relação à avioneta do clip húngaro, os americanos sempre se recusaram a filmar algo assim, pois eles gostam de usar truques e esquemas para tornar os filmes baratos e probrezinhos, são um bocado como as lojas dos chineses, em que o material é uma merda e parte-se logo. Mas em relação ao clip franco-italiano que mostrei ao início, acho que merece 10/10 e é excelente, no entanto não possui a tal encenação (que torna a filmagem imersiva do ponto de vista do espectador) da europa de leste.
Os 2 excertos que mostrei são tipos diferentes de cinematografia, e ambos bons, mas ilustram bem a diferença entre a cinematografia da Europa Ocidental e Oriental do antigamente, por isso já sabem que quando lerem as minhas bocas em que elogio algum filme de leste, se calhar existe por lá alguma filmagem insólita e muito bonita.
Zé da Adega escreveu: Lamento mas gosto de ver roupa suja junto à maquina de lavar roupa nos filmes russos, porque esse é o mundo real...
Lamento desiludir-te mas esse não é o meu mundo real.
Hehehe!
Se calhar tens a roupa suja num cesto na casa de banho como eu, mas o meu comentário era genérico, a propósito dos apartamentos dos filmes de leste, terem um aspecto realístico, em contraste com os apartamentos dos filmes americanos que parecem fotos de catálogos do IKEA (as telenovelas portugas e brasucas são ainda piores e mais artificiais).
Acho que deu para perceber a minha ideia, de resto eu sou o estilo de cinéfilo que gosta de ver num filme histórico, passado no antigamente, as mulheres a despejarem penicos pela janela, para cima dos transeuntes, como se fazia em Lisboa e Paris.
Vou partilhar aqui uma grande crítica que escrevi, acerca de um filme off-topic, mas que poderá interessar ao pessoal. Tanto o filme, como a minha análise são ambos insólitos. Basicamente, durante o século XIX, o escritor Teófilo Braga andou pelas aldeias portuguesas a recolher os míticos "Contos tradicionais portugueses" da tradição oral do povo português ao longo dos séculos e milénios, que publicou em 1883. Eu li esses contos aos 12 anos de idade e fiquei fascinado e marcado com eles. Um dos contos portugueses é comum à maioria dos países europeus, e durante a era soviética o cinema checoslovaco adapta e amplia o conto de forma espectacular e que seria impensável no cinema americano, devido à interferência dos produtores de Hollywood.
Na minha super-crítica que se segue, tenho excertos legendados em português e inglês (carreguem no botão do You Tube para activar as minhas legendas), fotos do castelo onde filmaram o filme, o texto integral do conto português recolhido por Teófilo Braga, análise científica do séc. XXI acerca do papel histórico do sal na Europa medieval, etc.
Mas o que me faz cair o queixo é a introdução do filme, com justas (cavaleiros com lanças), em castelo autêntico, com filmagens em ângulo do cinema soviético (de baixo para cima). Quando li o conto nos anos 80, não imaginava que do lado de lá da cortina de ferro, havia uma adaptação de cinema deste calibre...
Aqui vai a minha crítica:
Soľ nad zlato (literalmente: O Sal mais do que o Ouro)
Título original primário (eslovaco): Soľ nad zlato Título original secundário (checo): Sůl nad zlato Título original terciário (República Federal Alemã): Der Salzprinz Estúdios e Países de origem:
Slovenská filmová tvorba Bratislava - Checoslováquia (actual Eslováquia) Omnia-Film Produktion und Service GmbH (München) - República Federal Alemã
Data de lançamento: 27 de Fevereiro de 1983 (região eslovaca da ex-Checoslováquia)
Informação preciosa traduzida do wikipédia alemão:
"The film was shot in the Czech Republic and in Slovakia . Locations were in Slovakia Cerveny Kamen, Demänovská Ice Cave , Lakšárska Nová Ves and the Czech Republic Křivoklát , Lednice and Prague .
In the cinemas of the Czechoslovak Socialist Republic was the Salzprinz shown in 1983. The synchronized in German language version was first on 3 and 4 April 1983 in two parts in the ZDF broadcast. In the GDR , the film had on 19 July 1985 cinema premiere. On 1 August was the television premiere of the fairy tale film in Czechoslovakia, and on 22 August 1985 in Hungary. Internationally, the film was released under the respective translations of the title: In English as The Salt Prince , in Spanish El principe de Sal , in French Le Prince de Sel and in Italian as Il Principe del Sale ."
Realizador: Martin Hollý Género(s): Conto Tradicional, Drama, Histórico Duração: 85 min
Adaptação cinematográfica que expande a variante eslovaca do conto tradicional europeu, que em Portugal se designa por O Sal e a Água.
Trata-se de um conto transversal a toda a Europa, que através dos séculos foi contado oralmente pelas avós, cuja variante portuguesa foi registada na escrita por Teófilo Braga, e similarmente no antigo Reino da Boémia, a variante eslovaca foi contada oralmente à célebre escritora checa Božena Němcová, por uma criada nas termas de Sliač.
Opinião
Conto Popular Português reconstituído no Cinema da Checoslováquia
Irei fazer uma abordagem completamente diferente no meu comentário a este filme, e tentarei mostrar como é esta bela obra de cinema, vista pelos meus olhos...
A história não começa há mil anos atrás, quando as avózinhas contavam a história aos netos, nem em 1983 quando o filme foi feito. A história começa no final da década de 1980, quando em rapazinho li o livro entitulado "Contos Populares Portugueses", que é uma antologia ou recolha/colecção de pequenos contos ou short stories portugueses.
Eu gostei do livro porque as histórias eram curtas e contadas de forma eficiente, indo directas ao assunto, e nunca me esqueci desta história, que é tão pequena e curta que irei mostrar já de seguida para terem apenas a noção do tamanho, ou para a lerem se quiserem.
O Sal e a Água
Conto popular português integral, recolhido no séc. XIX pelo escritor Teófilo Braga, a partir da tradição oral do povo português, e publicado em 1883.
Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas, por sua vez, qual era a mais sua amiga?
A mais velha respondeu: - Quero mais a meu pai do que à luz do Sol.
Respondeu a do meio: - Gosto mais do meu pai do que de mim mesmo.
A mais moça respondeu: - Quero-te tanto como a comida quer o sal.
O rei entendeu por isto que a filha mais nova não o amava tanto como as outras e pô-la fora do palácio. Ela foi, muito triste, por esse mundo e chegou ao palácio de um rei, aí ofereceu-se para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel muito bem feito, o rei ao parti-lo achou dentro um anel muito pequeno e de grande preço. Perguntou a todas as damas da corte de quem seria aquele anel.
Todas quiseram ver se o anel lhes servia; foi passado até que chamaram a cozinheira e só a ela o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família nobre.
Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas e viu-a vestida com trajes de princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para as festas do noivado convidou-se o rei que tinha as três filhas e que pusera de fora a mais nova.
A princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não pôs sal de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que nada comia. Por fim perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia.
Respondeu ele, não sabendo que assistia ao casamento da filha: - É porque a comida não tem sal.
O pai do novo fingiu-se raivoso e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha posto sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-a logo e confessou ali a sua culpa por não ter percebido quanto era amado pela sua filha, que lhe tinha dito que lhe queria tanto como a comida quer o sal e que depois de sofrer tanto nunca se queixara da injustiça de seu pai.
Quando descobri que os grandes mestres de Cinema da Checoslováquia adaptaram uma variante deste conto, e vi a introdução filmada num castelo verdadeiro, que antecede uma justa, fiquei todo contente. Estes tipos do bloco soviético sabiam fazer obras-primas cinematográficas, com realismo, qualidade e maturidade, e os personagens comportam-se como humanos da idade média e não como raparigas adolescentes que frequentam uma escola americana no séc. XXI.
A introdução é esta (coloquei legendas em inglês):
O cinema de leste foi historicamente na guerra fria o rival directo do cinema de Hollywood, com visões e conceitos antagónicos, é interessante observar não apenas o que é bem feito (castelo autêntico, credibilidade dos actores, etc.), mas também a inexistência do que é mal feito (inexistência de comédia, humor e infantilidade dirigidas a adolescentes da geração em que o filme estreia).
Por exemplo o velho bobo da corte já tem a confiança de longa data do velho rei, prestes a abdicar, e em vês de palhaçadas oferece conselhos sábios ao Rei ("A tua filha irá casar-se com um assassino, em resultado do torneio").
No video seguinte podemos ver o velho bobo da corte, a tentar dar bons conselhos ao Rei, indirectamente através duma canção de trovador, com letra composta por ele. Traduzi as legendas para português, escolham o idioma PT-PT na opção do vídeo do You Tube:
A versão checa do conto O Sal e a Água, recolhida por Boženy Němcové é muito maior do que a versão portuguesa recolhida por Teófilo Braga, e envolve elementos característicos de contos de fadas. A tradução oficial inglesa pode ser consultada no site oficial do Muzeum Boženy Němcové:
Ainda assim a versão checa permanece apenas um pequeno conto, pelo que o filme expande ainda mais o enredo, e inclui elementos de outros contos da Europa central, como o reino da sub-Terra que causa uma maldição que transforma todo o sal do reino em ouro.
Desta forma o filme acaba por não ser a adaptação do pequeníssimo conto popular português, e apenas mantém a mesma premissa moral, pelo que o título da minha crítica será enganoso.
Eu sou uma pessoa muito curiosa, e fui investigar de que forma a inexistência de sal pode levar à destruição e queda de um reino, e encontrei a resposta científica e histórica.
Do ponto de vista científico, embora o sal em demasia faça mal à saúde, a sua total inexistência tornaria a vida impossível e causaria a extinção da humanidade. O sal é necessário no corpo humano.
Do ponto de vista histórico, Portugal foi um país previlegiado com a sua extensa faixa costeira, em que uma pessoa podia ir à praia recolher água salgada para cozinhar, ou produzir sal de borla para exportar, apenas deixado água do mar secar ao sol com o nosso clima especial, por exemplo temos as salinas do Samouco na margem sul do Tejo.
No entanto a obtenção de sal foi um grande problema para muitos países europeus, e existiram reinos na europa que caíram mesmo, quando foi cortado ou taxado, o transporte de sal.
Nesta versão cinematográfica do velho conto europeu, todo o sal do reino tranforma-se em ouro, mas assim que passam a fronteira para comprar sal no reino vizinho, o ouro torna-se novamente sal. Gostei particularmente da cena acompanhada com música medieval, do banquete real em que provam a comida sem sal, que é diferente da simples versão portuguesa, mas coincide com o cenário que imaginei quando li o conto português em rapaz.
Para mim este filme fica em 2º lugar, imediatamente atrás do "Três Nozes para Cinderella", na minha lista pessoal de melhores adaptações cinematográficas de contos tradicionais. A actriz principal é a mesma, bem como o compositor musical, conhecido em Portugal pela canção da Abelha Maia. No entanto apesar de ambos os filmes serem co-produções entre a Alemanha e a Checoslováquia, são Alemanhas e Checoslováquias muito diferentes. O filme da Cinderela foi feito pela Alemanha de Leste e região checa (actual República Checa), enquanto este filme foi feito pela Alemanha Ocidental e pela região eslovaca (actual Eslováquia).
Os mistérios das bebidas alcoólicas na Europa de Leste
Ora bem, este post é na desportiva.
O conceito de bebidas alcoólicas da europa de leste não corresponde ao conceito português! Em Portugal uma bebida é considerada alcoólica se contém álcool, o que tem lógica, mas por exemplo eu já li algures que ainda hoje na Rússia os vinhos e cervejas são oficialmente considerados bebidas não-alcoólicas, por terem baixo grau de álcool. Não sei se é verdade ou não...
Ofereceram ao meu pai, durante a guerra fria, uma garrafa de vodka comprada na Checoslováquia, cujo rótulo estava escrito em inglês e dizia: "Spirit of Poland - 95º".
Quando eu tinha os meus 16 anos, idade em que eu e os meus amigos éramos putos estúpidos à força toda, eu desafiava o pessoal a beber um shot dessa garrafa misteriosa, mas ninguém se atrevia pois só o cheiro da garrafa aberta causava quase um desmaio.
Se os leitores forem a um supermercado português espreitar a secção das vodkas, irão observar que o teor alcoólico é de 37,5º, afinal o que é isto da vodka polaca a 95 graus? É para matar alguém ou quê?
Vou colocar um excerto de um film-noir polaco de 1958 chamado "Pętla", que neste contexto significa a corda do enforcado. Este excerto tem legendas portuguesas escritas por mim (em bom PT-PT: "barris de imperial", etc.).
Enquanto em Portugal a malta come caracóis e bebe umas cervejas, conceito considerado nojento pela maioria dos povos (os ingleses chamam "snail eaters" aos franceses, por comerem caracóis), na Polónia comem e cheiram arenque fumado a acompanhar cerveja e vodka, aqui está o clip (cliquem no botão das legendas para lerem a minha tradução pessoal):
O clip é genial pela corrente do Realismo Soviético, mas existem os mistérios culturais dos polacos cheirarem o arenque fumado, entre uns tragos de vodka. Em Portugal não se cheiram os tremoços, amendoins e caracóis, enquanto se bebe cerveja. Os petiscos são para comer! (ver o meu segundo clip)
Em relação à garrafa checoslovaca de vodka da Polónia que ofereceram ao meu pai, vim a descobrir no wikipédia, que para poupar custos os fornecedores de vodka distribuem vodka concentrada a 95 graus, imprópria para consumo humano (pode matar um homem), na premissa do dono da tasca diluir em 2 partes de água. É como o concentrado de laranja que se vende no supermercado...
Mas quando eu tinha 16 anos não existia Wikipédia , e podia ter morrido ao beber aquilo...
Fica desvendado o mistério da Vodka polaca a 95 graus, mas continuo sem saber porque se cheira o arenque, a seguir a beber um trago de vodka...
Para terminar deixo o meu segundo clip, que é a continuação da cena do bar anterior, mas sem legendas:
Espero que se tenham divertido com estes mistérios das bebidas alcoólicas na Europa de Leste...
A nível de realismo/alcoolismo já li vários wikipédias de filmes soviéticos, em que o realizador tinha de parar as filmagens porque o actor principal aparecia bêbado, e tinha de re-agendar as filmagens para o dia seguinte em que o dito actor estava demasiado ressacado para beber (como exemplo o filme "Treze" de 1937, que apenas teve doze protagonistas porque o 13º estava sempre bêbado, não estou a inventar). Não li nada acerca deste Petla ter ou não actores bêbados, mas que os dois clips anteriores são muito "realistas", eles são...
Serão dois actores geniais a simular bebedeira? Ou estarão mesmo a "mamar vodkas"? Mais um mistério...
Podias ficar descansado que não morrias por beber um shot do tal vodca de 95 graus. O Absinto têm normalmente a graduação entre os 80 e 92 graus e bebe-se na boa por alguém acostumado a beber álcool. Podias ficar com a garganta toda atrofiada, mas não morrias, hehe. Já bebi álcool puro com os meus amigos por maluqueira e ainda ando aqui, o meu fígado é que não deve ter achado muita piada...